segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Todos à Deriva


Fui assistir "À Deriva", não pelo trabalho anterior do diretor, Heitor Dhalia - O Cheiro do Ralo - porque achei uma grande porcaria, mas pelo apreço que tenho em relação ao ator francês Vicent Cassell que topou a jornada de fazer esse filme brasileiro falando português.

O filme é simples e foca como assunto principal o tema universal que é a família. A locação praiaana (em Búzios, descobri depois), a direção de arte e as interpretações de Cassell, da atriz brasileira (sempre boa), Deborah Bloch e da pequena Camilla Belle são o grande trunfo de uma história que não chega a emocionar, mas que é consistente com tudo o que a gente observa nas nossas famílias: O término do amor entre casais, as traições, as dúvidas adolescentes, os afetos relacionados e o eterno recomeçar depois das quebras de um cotidiano que nos acostumamos e não sabemos dizer bem se é bom ou ruim, se é amor ou comodidade, se é carinho ou é paixão.
A questão a se pensar é sempre aquela de abrir mão de algo para se ganhar outro algo, que só mais tarde saberemos se será melhor ou pior, a prioridade que se têm e se sente, àquela que pode ser mais forte que qualquer papel social que se exerça, a de mãe, a de mulher, a de filha. Mais do que isso, é não se contentar em ter apenas um papel social, mas poder ser tudo aquilo que a gente sonhou um dia e que em algum momento da vida nos pareceu bobagem e fomos abrindo mão, obrigados pelo rumo tomado anteriormente ou por cansaço.

A vida é múltipla assim como nós. Não precisamos ser sempre a mesma pessoa e ter os mesmos gostos todos os dias.
Nos arrisquemos, todos...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Dedicatória Breve


Entre cafés no Conjunto Nacional, metrô, seleções na Bela Cintra, metrô, showzinho no Ibira, metrô, apresentação de dança no Centro Cultural, metrô e gatos, cachorros e comida na Mooca, vislumbrei mais uma vez que de bar em cafeteria - sempre passando por um metrô - de casa ou no restaurante - a pé - amigos e amores são aqueles que servem para te fazer sorrir e te ouvir reclamar e chorar (muito). O alìvio vem depois, com a palavra de incentivo, com a mão na sua, com o beijo ou telefonemas de preocupação e cuidado. Hoje ouvi que sou muito amada e acreditei, não por causa das palavras, mas por causa das demonstrações, dentro ou fora de uma estação de metrô, dentro ou fora da cidade de São Paulo.

Esse pequeno desabafo é para Daniel que quebra todos os meus galhos, me dá força e ri das desgraças, Mila que sempre está pronta pra me dar um `help`e me socorrer, Juju que mostrou mais uma vez que antes de ser parente é amiga das melhores e principalmente para Karina, que enxuga minhas lágrimas todo santo/maldito dia, em qualquer cidade.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Crime do Restaurante Chinês


Uns dois meses atrás li na coluna semanal de Contardo Calligaris na "Folha de São Paulo" sua admiração pelo livro do historiador Boris Fausto: "O Crime do Restaurante Chinês", e por este fato particular, resolvi ler o livro.

Não me decepcionei, porque a obra é sobre um fato ocorrido na década de 30 na cidade de São Paulo, mas podemos entender o livro, e lê-lo como literatura, e das boas. Depende da preferência de quem lê.
Boris Fausto decidiu contar essa micro-história porque o crime citado o afetou quando criança, e nós sabemos que sempre existem histórias que povoam nossa imaginação infantil, por vários motivos, sejam elas explicáveis ou não.

O crime que Fausto se refere não é algo excepcional em termos de grandiosidade, comparado à outros crimes cometidos na maior cidade brasileira, mas através dele conseguimos visualizar aspectos muito parecidos com a época atual.
As pessoas assassinadas eram imigrantes chineses e trabalhadores lituanos, e o suspeito da atrocidade - que permaneceu na cadeia por quatro anos - negro. Não havia contra ele provas consistentes, mas pressionada pela mídia, a polícia sem outros suspeitos, deteu e através de humilhações físicas e psicológicas, obteve do suspeito a confissão do crime.
Como as coisas não mudam de um dia para outro, há de se pensar e ter um certo receio que tais barbaridades aconteçam atualmente, não só no Brasil, mas mundialmente.
A polícia tem que mostrar trabalho, seja ele a verdade ou uma história inventada. (vide o filme que aqui postei de Clint Eastwood: "A Troca").

Mas mais que isso, a obra de Boris Fausto mostra que eventos que parecem a primeira vista indiferentes e que não possuem ligação com o crime em si, como a copa do mundo e o carnaval daquele ano, podem e de fato interferem no resultado final de um júri popular.

Escrevi neste blog algumas vezes sobre a morosidade e ineficiência da justiça. Este livro confirma as minhas afirmações. Só existe justiça aos que podem pagar por um resultado favorável.
O crime do restaurante chinês, aparentemente pode parecer insignificante diante de outros crimes hediondos, mas é o retrato da ineficiência da justiça brasileira em relação às minorias étnicas e econômicas.
É o retrato triste dos anos 30 que, infelizmente, não se modificou com o passar das décadas.

Texto dedicado à K. que cada vez mais se interessa pelos meus interesses e faz de mim uma pessoa mais dedicada e compromissada.