quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Vida em Família

Estou aqui com a primeira temporada da série norte-americana, "Brothers and Sisters". Assisti pouco dela e mesmo assim já digo que gosto, mesmo com os clichês característicos: pai morto, mãe alienada, filho homossexual, filho perdido, e filhas neuróticas. (Ponto a favor: As talentosíssimas, Calista Flockhart, Sally Field e Rachel Griffiths).
Gosto, porque quando assisto me vejo, encontro detalhes sórdidos, vívidos e esperançosos em mim e nas pessoas da minha família, porque se é clichê, é porque basicamente, assustadoramente, eles acontecem de monte (seria essa frase um clichê?).

Aprendi quando pequena a me infiltrar na biblioteca do meu pai, a folhear as páginas e conquistar uma estante só pra mim - seria por isso a minha adoração por livros? Mostrava a meu pai algumas coisas que ele não conhecia, e na minha imaginação - não sei se foi algo real, concreto - ele gostava. Uma das mais vivas é a de assistir os filmes do Quentin Tarantino com ele, e quando comprei os Dvds, o peguei muitas vezes assistindo e dando risada com as cenas bem pitorescas do "grande" Quentin. Logo depois, ele curtiu "Cães de Aluguel".
Ele ouvia minhas músicas e pedia pra botar pra tocar. Acho que o silêncio o incomodava bastante. E como uma coisa leva a outra, eu ouvia o que tocava no rádio do carro dele. Lembro da pequena viagem que fizemos, ele me levando para o aeroporto, de madrugada, e a gente conversando sobre a vida dele, das dificuldades da adolescência, da pouca grana, da muita vontade - e tocava de fundo um antigo disco do Roberto Carlos, que ficou marcado em mim, porque a conversa foi boa e talvez, porque o disco seja bom.

Minha prima quando me viu ouvindo umas músicas tipo New Kids on The Block (eu tinha meus 12 anos), me levou para seu quarto e mostrou seus discos. Lembro de alguns deles: Sex Pistols, The Smiths, Rage Against The Machine, Black Sabbath e um disco duplo do Caetano - que hoje é um dos meus preferidos. E não sei se por acaso, esses discos e bandas entraram em minha vida e nunca mais saíram. Mostrei o disco "Mais", de Marisa Monte à ela, e ela gostou e o escutava. A última vez que a vi conversávamos sobre o disco ao vivo da banda Portishead. Ela amava, eu amo.

Não tenho nada de muito em comum com minha mãe e com minha irmã, mas de alguma maneira, de forma boa, penso eu, elas me influenciam todo o tempo, com conversas, atitudes, comportamentos. Uma vez, minha irmã disse que quando ouvia "Esquadros", da Adriana Calcanhotto, como mágica, pensava em mim, na parte em que a canção diz: "Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores...". Não sei bem o motivo, mas me emocionei.

Primas, primos, tios, tias, uma variedade de gente e de gostos e de posturas que interferem na sua vida e faz com que você aprenda, mesmo muitas vezes, não de maneira agradável a se posicionar de outra maneira.

Eu tenho um sobrinho, pequenino, e sempre lhe dou de presentes, livros - para ele já ir montando a sua "estante", discos e filminhos, porque é o meu único legado. Não sou corajosa, não sou talentosa de maneira prática, sou prepotente e orgulhosa, já muito cansada, e isso, eu queria que ele não notasse, não percebesse. Não sei se é possível, mas tento arduamente, todos os dias que ele veja apenas as cores de Almodovar em mim.

Família é clichê. Na minha há os neuróticos, os homossexuais, os alienados e os problemáticos. Na família de todos...
Talvez por isso, valha a pena conferir, "Brothers and Sisters". E como clichê, chorar em muitas das cenas.

sábado, 24 de outubro de 2009

All you need is love





Comemorei meus 30 anos junto das pessoas que eu amo. E isso já é o suficiente.
Os amigos de longe: de Campinas, do Rio, de Sampa, de Manaus, de Vitória, e daqueles que já não estão mais em nenhum lugar fazem sempre uma falta dolorida. Mas comemorar é saber comemorar internamente a presença daqueles que ficaram ausentes fisicamente.
Amo vocês.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

"Não é televisão, é cinema!"


A frase acima é do autor do livro "O Clube do Filme", David Gilmour, pai de Jesse, um garoto de 15 anos que fracassa na maioria das disciplinas escolares e se mostra entediado, cansado e chateado por ter que frequentar a escola. Gilmour então propõe o seguinte ao menino: não precisa ir à escola, não precisa trabalhar e nem pagar nenhuma conta dentro de casa, Jesse só precisa assistir 3 filmes por semana escolhidos pelo pai e acompanhado do pai. E sobre os olhares reeprensivos dos vizinhos que enxergavam dia e noite o pai e filho sentados numa poltrona assistindo televisão, David tinha vontade de gritar: Não é televisão, é cinema. E que fique claríssimo a diferença.

O filósofo nada ortodoxo, Paul Feyerabend, em seu livro "Contra o método" discursa a favor de práticas alternativas no ensino das crianças e adolescentes. Por que eles têm que aprender apenas as ditas "ciências sérias"? Por que não ter aula de mágica?
E essa é a pergunta que eu faço: Por que não ter aula de cinema, ou de música? Ao meu ver, e pode ser bem parcial, já que aprendi com a arte cinematográfica muito mais que as aulas de física, química e matemática juntas, o cinema pode e é um dos recursos mais agradáveis e eficazes de educação. Não essa educação tradicionalista que finge que o mundo não está mudando, mas a educação de conscientizar o jovem de que ele pode pensar por ele próprio, sem ser forçado a se confrontar com teorias, que provavelmente jamais terá de utilizar o resto da vida.

Na história de sua vida, David Gilmour não optou pelo mais fácil. Não é fácil não saber se o que ele premeditou, se o seu legado de crítico de cinema e conhecedor da sétima arte funcionará com o filho, se através do cinema, ele vai adquirir vontade de viver a sua própria vida. Não deve ter sido fácil esperar 3 anos para ver seu filho indo pra vida, mas deve ter sido inesquecível se sentar ao lado do filho e não só assistir aos filmes, mas ter com ele, conversas francas sobre a vida dos dois. O cinema tem esse poder: o de aproximar a nossa vida, a nossa consciência daquilo que a gente vê.

Quantos pais matriculam seus filhos nas melhores escolas, cursos de idiomas, aulas de ginástica, tênis, violão e o raio que o parta, mas não têm o menor conhecimento do que se passa na cabeça, no cotidiano e na vida desses filhos?

David e Jesse Gilmour aproveitaram (e não perderam) 3 anos de suas vidas para se conhecerem, para se respeitarem e consequentemente, para assistirem alguns filmes.

Obs1: E não é que David Gilmour além de ter sugerido os "ditos" clássicos, também assistiu com o jovem Jesse, porcarias, como ele mesmo escreve, como "Showgirls", "Robocop" e "Rocky 3"? Não se aprende apenas com o que é bom. Precisa-se de parâmetros para SABER o que é bom.
Obs 2: Fiquei surpresa e feliz que o livro esteja entre os mais vendidos. Espero que as pessoas saibam aplicar alguma coisa dele em relação aos que querem bem.
Obs3: Que vontade de reassistir "Amores Expressos", de 1994, do diretor Wong Kar-Wai. Depois do término do livro, fui correndo para a locadora, mas não tinha sequer uma cópia. Será que precisa-se comprar esse tipo de filme (não que isso seja desagradável, muito pelo contrário) para ter acesso? E a grande maioria? Fica sem assistir mesmo...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Maitê Proença e Portugal

Pelo programa de televisão "Saia Justa", a atriz brasileira Maitê Proença visitou Portugal e conseguiu ofender todos os portugueses.

Não acredito que ela tenha ofendido apenas os lusitanos mas aos brasileiros que acham indigno uma pessoa visitar um determinado local e tecer comentários sem conhecimento de causa (Maitê chama o Tejo de mar) e piadas sem graça, insinuando que os portugueses são burros e falando que os considera um povo estranho. Se não bastasse a falta de conhecimento geográfico, conhecimento sobre a história de Portugal, a atriz mostra também a falta de educação e bons modos ao cuspir em uma fonte que é um monumento histórico do país.
No Youtube, o vídeo se proliferou e dele derivou outros tantos vídeos, como o de canais de televisão de Portugal sobre o comportamento da "atriz-apresentadora-escritora-dramaturga"???

Mas o que mais me impressiona não é exatamente o que Maitê Proença fez. Dela escrevi há pouco tempo aqui, dizendo sobre a sua pouca gentileza. O que me causou alguma revolta é averiguar que a maioria dos brasileiros que deixam seus comentários sobre os vídeos no site do Youtube, se posicionam a favor dela e contra os portugueses, que com razão, se revoltaram. Logo, a conclusão que se chega é que Maitê Proença não é algo isolado do que significa o povo brasileiro. Teve as mesmas atitudes que a maioria de nós teríamos. Degradamos uma nação, que não é a nossa, e rimos dela e se não bastasse achamos que temos razão. Depois é o povo lusitano, o povo estranho?

Devíamos era nos envergonhar e pedir desculpas por ela, e entender que se fosse o contrário, alguém de outro país visitasse o nosso e achasse graça em cuspir no Cristo Redentor, faríamos exatamente o que os portugueses fizeram: se indignaram.

Outro vídeo no Youtube é o da atriz pedindo desculpas à nação portuguesa e dizendo que brasileiro é assim: leva tudo na brincadeira e que a gente brinca com o que a gente gosta e aprecia. Alguém entende isso? Porque eu não entendi.

É por esse e tantos outros espetáculos promovidos por tanta gente que nasceu aqui - e que achamos que são fatos isolados - mas que representa todo um comportamento de uma nação é que faz com que eu goste cada vez menos e tenha pouquíssimo orgulho de ser brasileira.

Convido todos à irmos para Salvador e cuspir dentro da Igreja do Bonfim ou à Aparecida e fazer o mesmo com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Vambora, brincar com o que a gente aprecia!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Samba e amor

E a gente na cozinha conversando e no Dvd rolando o show do Casuarina, sambas bom demais e o meu jeito de dizer que ainda sou completamente apaixonada por você:

Eu quero
Me esconder debaixo
Dessa sua saia
Prá fugir do mundo
Pretendo
Também me embrenhar
No emaranhado
Desses seus cabelos
Preciso transfundir
Seu sangue
Pro meu coração
Que é tão vagabundo...

Me deixa
Te trazer num dengo
Prá num cafuné
Fazer os meus apelos...

Eu quero
Ser exorcizado
Pela água benta
Desse olhar infindo
Que bom
É ser fotografado
Mas pelas retinas
Desses olhos lindos
Me deixe hipnotizado
Prá acabar de vez
Com essa disritmia...

(Martinho da Vila)

domingo, 11 de outubro de 2009

Lista a respeito de gente e não sobre livros

Quem já não se rendeu à listas?
Essa é a minha, o Top 10 dos livros que mais marcaram, aqueles que ficam como tatuagem:

1. A Descoberta do Mundo - Clarice Lispector.
2. O Livro do Desassossego - Fernando Pessoa.
3. As Meninas - Lygia Fagundes Telles.
4. O Livro dos Abraços - Eduardo Galeano.
5. A Alma Encantadora das Ruas - João do Rio.
6. O Ovo Apunhalado - Caio Fernando Abreu.
7. O Jogo da Amarelinha - Julio Cortázar.
8. Precisamos Falar Sobre o Kevin - Leonel Shriver.
9. Os Miseráveis - Victor Hugo.
10. É Claro que Você Sabe do que eu Estou Falando - Miranda July.

E eles falam "basicamente" sobre nós.

"Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara..."E. Galeano.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Back to Amy


O post abaixo é menos informativo e mais coerente com o post anterior quando escrevi sobre Cazuza e outras personalidades "errantes".

O jornal britânico "The Telegraph" elegeu "Rehab", música do disco Back to Black, de 2006, da "marginal" Amy Winehouse como a música mais influente da década, em uma escolha de 100 canções.
Segundo o jornal britânico, a música de Amy é a que melhor define a cultura músical dos anos 2000.
Segundo a publicação, são "as músicas universais que entraram para a cultura popular e viraram trilha sonora em nossas vidas".
Então, parece que os Jonas Brothers e todos os bons moços discípulos dos New Kids on The Block ficaram de fora...
O que seria da nossa vida cultural sem os marginais?
Fora isso, salve, salve Amy!