terça-feira, 29 de abril de 2008

Qual a resposta?

Meu pai me ensinou indiretamente a ter e ser calma, ter paciência e esperar por dias melhores.
Pai, eu falhei. Falho todos os dias, porque não tenho e não sou calma, porque sou impestuosa e as minhas esperanças estancam a cada dia.
Estou perdida e completamente impaciente.

sábado, 26 de abril de 2008

A religiosidade e seus símbolos

O diabo é um mito vizinho ao do dragão, simbolizando o encerramento, o limite. Passar desse limite é ser maldito ou sagrado, "vítima" do diabo ou eleito de deus, é a queda ou ascenção.
Religiosamente, o diabo é o divisor, o desintegrador e preenche uma função que é a antítese exata do símbolo: a de reunir, integrar. Ao mesmo tempo ele exprime a combinação das forças e dos 4 elementos da natureza em meio dos quais se desenrola a existência do homem. Essa parte específica fica fora das aulas de catequese e das missas dominicais...
É hermafrodita, lembrando os domínios do inferno, onde o homem e o animal não se diferenciam.
Pergunta: Só no inferno não há diferenciação ou o inferno é a Terra?
E psicologicamente falando, se o diabo é a regressão ao desejo de satisfazer suas paixões, não é interessante afirmar a importância de seu simbolismo que é a própria importância fundamental da Libido, sem o qual não há desabrochar humano?
Interessante assinalar também que o símbolo do demônio é uma iluminação superior às normas habituais que permite ver mais longe e com mais segurança, mas para a demonologia cristã, os demônios são apenas anjos que traíram a própria natureza revelando-se inimigos de toda a natureza, antagonistas do ser.
O dragão, na visão cristã, aparece essencialmente como um guardião severo ou como um símbolo do mal e das tendências demoníacas, mas na verdade o dragão é o guardião dos tesouros ocultos. Psicologicamente podemos interpretar o símbolo do dragão como o guardião de nossos pensamentos, desejos e sentimentos inexpressados, não manifestos. Tal visão também fica fora das "escrituras" e dos ensinamentos da igreja cristã.
Na dita "sociedade divina", dragão é visto como um símbolo do mal, mas no oriente é o símbolo do mercúrio filosofal. (E iso pode ficar interessante se os que estiverem lendo esse texto também forem leitores de Harry Potter) já que os dois dragões que se dão combate designam duas matérias em busca da pedra filosofal e são sentinelas do portão do jardim onde é possível colher sem medo os pomos de ouro.
Não entendo até o determinado momento, porque a igreja cristã não tentou censurar os livros do pequeno bruxinho...
Os teólogos são tão previsíveis a ponto de divulgar incessantemente apenas as imagens de São Jorge e/ou São Miguel em combate com o dragão, ilustrando assim a luta perpétua do bem contra o mal.
Onde eu quero chegar? Na sociedade moderna já não existe uma diferença grande entre o bem ou mal, mas a igreja ainda com a mentalidade da idade medieval acredita no maniqueísmo para obter poder e assim influenciar milhões a praticarem atos violentos em seu nome.
A religião não salva, ela matou e continua matando todos os dias com a ignorãncia unilateral de seus precários ensinamentos.
Salve-se quem puder ou quiser.
(Agradeço à Nina pela ajuda do tópico).

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Contardo Calligaris

Eu estava escrevendo sobre o caso Isabela quando me deparei com a coluna de Contardo Calligaris para a Folha de São Paulo. A vontade de escrever acabou, porque o psicanalista escreveu em poucas linhas tudo o que eu sinto.
Então melhor do que tentar escrever com as minhas palavras, colo as dele aqui.
Na última sexta-feira, passei duas horas em frente à televisão. Não adiantava zapear: quase todos os canais estavam, ao vivo, diante da delegacia do Carandiru, enquanto o pai da pequena Isabella estava sendo interrogado.O pano de fundo era uma turba de 200 ou 300 pessoas. Permaneceriam lá, noite adentro, na esperança de jogar uma pedra nos indiciados ou de gritar "assassinos" quando eles aparecessem, pedindo "justiça" e linchamento. Mais cedo, outros sitiaram a moradia do avô de Isabella, onde estavam o pai e a madrasta da menina. Manifestavam sua raiva a gritos e chutes, a ponto de ser necessário garantir a segurança da casa. Vindos do bairro ou de longe (horas de estrada, para alguns), interrompendo o trabalho ou o descanso, deixando a família, os amigos ou, talvez, a solidão -quem eram? Por que estavam ali? A qual necessidade interna obedeciam sua presença e a truculência de suas vozes? Os repórteres de televisão sabem que os membros dessas estranhas turbas respondem à câmera de televisão como se fossem atores. Quando nenhum canal está transmitindo, ficam tranqüilos, descansam a voz, o corpo e a alma. Na hora em que, numa câmera, acende-se a luz da gravação, eles pegam fogo. Há os que querem ser vistos por parentes e amigos do bar, e fazem sinais ou erguem cartazes. Mas, em sua maioria, os membros da turba se animam na hora do "ao vivo" como se fossem "extras", pagos por uma produção de cinema. Qual é o script? Eles realizam uma cena da qual eles supõem que seja o que nós, em casa, estamos querendo ver. Parecem se sentir investidos na função de carpideiras oficiais: quando a gente olha, eles devem dar evasão às emoções (raiva, desespero, ódio) que nós, mais comedidos, nas salas e nos botecos do país, reprimiríamos comportadamente. Pelo que sinto e pelo que ouço ao redor de mim, eles estão errados. O espetáculo que eles nos oferecem inspira um horror que rivaliza com o que é produzido pela morte de Isabella. Resta que eles supõem nossa cumplicidade, contam com ela. Gritam seu ódio na nossa frente para que, todos juntos, constituamos um grande sujeito coletivo que eles representariam: "nós", que não matamos Isabella; "nós", que amamos e respeitamos as crianças -em suma: "nós", que somos diferentes dos assassinos; "nós", que, portanto, vamos linchar os "culpados". Em parte, a irritação que sinto ao contemplar a turma do "pega e lincha" tem a ver com isto: eles se agitam para me levar na dança com eles, e eu não quero ir. As turbas servem sempre para a mesma coisa. Os americanos de pequena classe média que, no Sul dos Estados Unidos, no século 19 e no começo do século 20, saíam para linchar negros procuravam só uma certeza: a de eles mesmos não serem negros, ou seja, a certeza de sua diferença social. O mesmo vale para os alemães que saíram para saquear os comércios dos judeus na Noite de Cristal, ou para os russos ou poloneses que faziam isso pela Europa Oriental afora, cada vez que desse: queriam sobretudo afirmar sua diferença. Regra sem exceções conhecidas: a vontade exasperada de afirmar sua diferença é própria de quem se sente ameaçado pela similaridade do outro. No caso, os membros da turba gritam sua indignação porque precisam muito proclamar que aquilo não é com eles. Querem linchar porque é o melhor jeito de esquecer que ontem sacudiram seu bebê para que parasse de chorar, até que ele ficou branco. Ou que, na outra noite, voltaram bêbados para casa e não se lembram em quem bateram e quanto. Nos primeiros cinco dias depois do assassinato de Isabella, um adolescente morreu pela quebra de um toboágua, uma criança de quatro anos foi esmagada por um poste derrubado por um ônibus, uma menina pulou do quarto andar apavorada pelo pai bêbado, um menino de nove anos foi queimado com um ferro de marcar boi. Sem contar as crianças que morreram de dengue. Se não bastar, leia a coluna de Gilberto Dimenstein na Folha de domingo passado. A turba do "pega e lincha" representa, sim, alguma coisa que está em todos nós, mas que não é um anseio de justiça. A própria necessidade enlouquecida de se diferenciar dos assassinos presumidos aponta essa turma como representante legítima da brutalidade com a qual, apesar de estatutos e leis, as crianças podem ser e continuam sendo vítimas dos adultos.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Re: Manhã de terça feira

Querida,

estou como você, ao invés de largada no aeroporto, largada na cama pensando, pensando, pensando (coisas que nunca levam a lugar nenhum). Nesse momento você deverá estar embarcando para o Rio e deixando São Paulo pra trás.
Quantos sonhos a gente deixa pra trás? Quantos a gente realiza? Eu tenho realizado poucos...
A gente podia ter uma grana para abrir nosso bar!! Em Salvador, no Rio, São Paulo, Paris ou em qualquer lugar do mundo. A gente podia ter tanta coisa, e não ter a consciência de tantas porcarias.
Eu aqui com o meu café e o meu cigarro. Ainda é cedo pra beber, ainda é cedo e sempre tarde demais.
Eu tenho medo, ainda morro de medo de pegar aviões nesse país, por isso (sempre) o rivotril, medo de dormir, medo de sonhar, sonhando a gente se decepciona. E saudades do que nunca aconteceu (Você bem sabe como é sentir isso).
Será que seríamos mais felizes na França? Ou seria mais uma fuga?Eu queria acreditar que é possível em algum lugar do mundo. E queria muito você sempre comigo.
A comida aqui acabando, o mercado é atravessando a rua, mas a minha vontade de sair desse apartamento é nenhum. Vou aderir às suas sopas horrorosas!
Não se force a escrever em lugar nenhum, mas para te dizer que eu entendo o seu e-mail, que entendo você, porque você vai ser sempre o avesso do meu espelho, este aqui vai estar lá postado no meu.
"Ficar cansada dos seus abraços, eu é que não vou
Quem esconde tudo que sente, eu é que não sou
Não vou mais pisar o freio, eu é que não vou
Andar com gente que é mais ou menos, eu é que não vou".
Beijo minha amiga e espero que esteja fazendo uma boa viagem
Te amo sempre.
M.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O sexo, a filha do canibal e o passar do tempo

Hoje ao reassistir alguns episódios de "Sex and the City" e de estar lendo o livro da espanhola Rosa Montero, "A Filha do Canibal", vi que havia elementos intrínsecos entre eles.
Num dos episódios da aclamada série norte-americana, a jornalista vivida por Sarah Jessica Parker, por ordem de seu editor, se vê na encruzilhada de escrever uma introdução para o seu livro sobre, claro, o sexo e a cidade, e percebe que com 35 anos nas costas não pensa da mesma maneira de alguns anos atrás, quando era otimista o suficiente para acreditar que encontraria um grande amor nas ruas de Nova Iorque.
Já no livro de Montero, a protagonista se vê questionando a própria existência depois do desaparecimento do marido. A protagonista com mais de 50 anos começa a entender e internalizar que com uma idade mais avançada, assim como muitos afirmam, envelhecer não é um ganho, ganho de experiência ou maturidade, mas que com o passar dos anos, a pessoa se vê perdida entre tantas perdas acumuladas durante as décadas. Quando se vive mais nas lembranças do que já se foi do que o que se é.
Minha vó de 86 anos também acredita nessa teoria como pude constatar numa conversa dias atrás.
Quando, exatamente, no percorrer da nossa vida deixamos de ser idealistas e sonhadores para nos tornarmos míseros sobreviventes de nossa história passada? Quando deixamos de ser otimistas para nos tornarmos cínicos?
A realidade é que a idade avançada não é necessariamente uma qualidade, é a proximidade da fatalidade, da morte, do fim, do significado de tudo que colocamos significados.
E essa afirmação pode ter um cunho positivo nos casos em que a pessoa não suporta mais a tortura que a vida nos aplica, ou de cunho negativo, se apesar de tudo, mesmo perdendo parte de sua identidade, a pessoa ainda mantêm uma fagulha de otimismo e esperança.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Gramática

É que eu não sei o que faço com esse aperto esse nó esses laços que por fim me enforcam me roubam a vontade o desejo a emoção e sobrevivo respirando a vida dos outros que no fundo parecem tão banais quanto a minha
Assim mesmo sem vírgula e sem ponto