quarta-feira, 30 de julho de 2008

Sonhos

Ela me liga de manhãzinha, sabendo que estou acordada, porque não dormi, e fiquei sonhando acordada, desejando universos diferentes, tão meus e por consequência, dela.
E me diz quase chorando, quase desesperada:
-Acho que vou te perder.
-Da onde você tirou isso?
-Eu sonhei com isso, sonhei que você desligava o carro e me mandava descer.
E eu penso embrigada de café, de cigarro, de sujeira, de resto de noite e começo de dia barulhento e só chego à uma conclusão:
-Talvez você queira ir embora, descer do carro e andar por outras ruas.
Ela chora.
E no fundo eu sei que é verdade.
"Mas sempre me pergunto por que, raios, a gente tem que partir. Voltar, depois, quase impossível" Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A ficção e a música nos salvando...


Estava assistindo novamente (e com muito prazer) "Mais Estranho que a Ficção" e tocou a música, aquela que dá vontade de fazer as malas e procurar a Maggie Gyllenhaal mundo afora!
Linda, linda (a música e a Maggie).
A música em geral tem um poder tão grande sobre as pessoas, que a personagem só teve certeza que aquele homem era o homem da sua vida, quando ele tocou essa música pra ela...


When I was a young boy
My mama said to me
There's only one girl in the world for you
And she probably lives in Tahiti
I'd go the whole wide world
I'd go the whole wide world
Just to find her
Or maybe she's in the Bahamas
Where the Carribean sea is blue
Weeping in a tropical moonlit night
Because nobody's told her 'bout you
I'd go the whole wide world
I'd go the whole wide world
Just to find her
I'd go the whole wide world
I'd go the whole wide world
Find out where they hide her
Why am I hanging around in the rain out here
Trying to pick up a girl
Why are my eyes filling up with these lonely tears
When there're girls all over the world
Is she lying on a tropical beach somewhere
Underneath the tropical sun
Pining away in a heatwave there
Hoping that I won't be long
I should be lying on that sun-soaked beach with her
Caressing her warm brown skin
And then in a year or maybe not quite
We'll be sharing the same next of kin
I'd go the whole wide world
I'd go the whole wide world
Just to find her
I'd go the whole wide world
I'd go the whole wide world
Find out where they hide her

(Whole Wide World - Wreckless Eric)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Eu sei do que você está falando


Miranda July é norte-americana e pouco conhecida aqui no Brasil. Além de escritora, é artista performática e cineasta. Escreveu, dirigiu e protagonizou seu primeiro longa-metragem: "Eu, você e todos nós" que chegou a ganhar prêmios em Sundance e Cannes.
Seu livro de contos "É claro que você sabe do que estou falando" foi lançado por aqui pela editora Agir; como disse um colega, a capa é meio esquisita e a editora não é das melhores, mas o livro é.

Eu em livrarias funciono meio diferente da maioria das pessoas, não vou com um título pronto ou autor na cabeça, um dos meus maiores prazeres é vasculhar as estantes em busca de algo que eu desconheça e me atraia, e foi assim que eu achei o livro de Miranda, escondidinho entre tantos outros. Já havia lido uma crítica à respeito dele na revista Istoé, mas acabei me esquecendo, por sorte o livro me achou.
O livro de 187 páginas apresenta 16 contos. E que contos...
Alguns críticos como o Time Out London e o The Independent encontraram leveza e diversão na escrita de July, mas não se enganem, a comicidade é apenas superficial e muitas vezes incômoda. A escritora apenas joga algumas piadinhas para que o livro possa ser lido, para que a angústia e a profundidade de vidas comuns e ordinárias não nos assuste tanto. E esses diversos personagens são tão parecidos com nós - e quando eu digo "nós", digo da condição humana - já que nossas fantasias podem ser incríveis e loucas, mas nossas vidas reais não passam de uma incômoda sensação de vazio.

Uma professora de natação - sem piscina - para idosos, uma mulher que sonha em fazer sexo com o príncipe britânico, a esposa que prefere que sua casa seja assaltada a continuar a vida pacata e chata ao lado do marido, o homem de meia-idade que cansa de procurar a mulher ideal e se joga nos braços de outro homem, as mulheres que se reúnem para conseguirem ser ouvidas, a menina que foge com a namorada - que não a ama - e se prostitui para pagar o aluguel, o homem que namora a própria filha, todas essas pessoas das histórias de Miranda podem ser nossos vizinhos, nossa mãe, nossa irmã ou nós mesmos.

Nada disso me assusta, me traz comoção, pena, sentimento de impotência e alguma desordem emocional, mas a verdade é que essas histórias nada diferem das outras histórias que eu ouvia no meu consultório, são apenas maneiras diferentes de encarar a dor e o sofrimento humano.
Se tudo é a mesma coisa, por que eu achei o livro extraordinário? Primeiro porque a linguagem da escritora é devastadora e ao mesmo tempo, encantadora, grosso modo, ela sabe escrever. Segundo: porque não há nada mais gratificante com o passar dos anos do que se identificar com as loucuras, os delírios, as tristezas e a solidão dos outros, isso faz com que a gente se sinta menos sozinhos na nossa solidão, no nosso caos, no nosso abismo, no poço que só vai ter fim quando a gente fechar os olhos de uma vez por todas.

Então Miranda, é claro que eu sei do que você está falando.


"Digo a mim mesma que unhas compridas igual a riqueza; a idéia de riqueza sempre me acalma. Finjo que sinto cheiro de perfume. E se nós todas usássemos xampus caros? E se estivéssemos o tempo todo brincando e não tivéssemos com que nos preocupar? Minha cabeça relaxa e eu faço o exercício em que a gente imagina que está se transformando em mel. Minha mente diminui a velocidade até um ponto que não seria considerado funcional para qualquer outro emprego. Só estou viva em um a cada quatro segundos, só registro quinze minutos a cada hora. Vejo que ela está de pé atrás de nós só de calcinha e ela não é muito limpa e eu morro. Vejo que Pip está tirando os sapatos e morro. Vejo que estou apertando um mamilo e morro". Em "Alguma coisa que não precisa de coisa alguma".

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O brilhantismo de Jennifer Connelly


Escrevi algumas críticas de filmes estrelados pela atriz norte-americana Jennifer Connelly quando contribuía para o "Caderno de cinema" e para quem me conhece não é nenhuma novidade que pra mim a Sra. Connelly ao lado da britânica Kate Winslet são as maiores atrizes cinematográficas do momento (momento = dez anos pra cá).

Jennifer estreou no cinema, ainda criança, sendo dirigida por nada menos que Sergio Leone em "Era uma Vez na América", fez magia ao lado de David Bowie em "Labirinto", encarnou uma homossexual no filme de John Singleton, "Duro Aprendizado", ainda pouco conhecida, ao lado de Antonio Banderas realizou o politicamente correto "De Amor e de Sombras" baseado no bom livro de mesmo nome da escritora chilena Isabel Allende. Com Jodie Foster produzindo e co-estrelando Billy Crudup, despeja sinceridade e dor no filme "Amor Maior que a Vida". Para muitos, seu melhor filme foi "Requiem para um Sonho" onde interpreta uma mulher viciada e prostituída. O reconhecimento do cinema popular ocorreu com o Oscar de melhor atriz coadjuvante (embora roube o filme) em "Uma Mente Brilhante". Em 2003 só não fez chover em "Casa de Areia e Névoa", uma das interpretações femininas mais consistentes dos últimos anos. Realizou junto com o diretor brasileiro Walter Salles, "Água Negra", um filme mal interpretado pela crítica em geral que não conseguiu capturar as nuances excepcionais do filme, e ela, mais uma vez, saiu ilesa de críticas negativas, assim como em "Hulk", um fracasso mundial que não mudou em nada sua filmografia. Nos últimos anos está gostando de fazer papéis de coadjuvante (papéis pequenos, não atuações pequenas), como: "Pecados Íntimos", "Diamante de Sangue" e "Traídos pelo Destino".

Jennifer é especial porque é diferente, é bonita sem apelar para uma sexualidade exacerbada, é mentalmente perturbada como evidenciam suas entrevistas, assim como as mesmas entrevistas revelam inteligência, bom humor e sensibilidade.

É politicamente correta (fez e continua realizando diversas promoções para diferentes causas sociais) sem ser careta. É indiferente aos holofotes, reclusa e concede entrevistas apenas para a divulgação de um novo filme.

Não tem medo de arriscar, já interpretou tudo quanto é tipo de gente em filmes independentes até os blockbusters, faz aquilo que acredita e isso se percebe pela força que empresta às mulheres que ela dá vida.
É diva sem ser esnobe, arrogante e super exposta. É elegante e não se repete.

No "Caderno de cinema" cheguei a escrever que Jennifer dá de 10 à 0 em atrizes super cultuadas como Fernanda Montenegro que já fez diversos papéis e tem sempre a mesma cara, o mesmo tom, os mesmos gestos, a mesma chatice. Connelly se desdobra e faz com que as pessoas se esqueçam dela para ajudar a personagem a ganhar credibilidade. De drogadicta, sem-teto, homossexual à alienada, esposa traída, esposa de esquizofrênico, faz tudo com perfeição, representa através do olhar (coisa bastante perdida hoje em dia no cinema norte-americano), da envergadura-postural, dos movimentos tênues, da loucura controlada.

Louca, linda, brilhante e perfeccionista. Alguém me prove que hoje tem gente melhor.

domingo, 20 de julho de 2008

Tudo errado?

E você disse no final do encontro: "deu tudo errado".
Ok. Pegamos metrô lotado de corinthianos, fomos drogadas num bar, paramos num hotel/motel de vigésima para descansar, paramos num café ainda dopadas e terminamos dormindo cedo e sem fazermos nada, absolutamente nada do que havíamos planejado num hotel que era proibido fumar em todos os lugares. Ok, deu tudo errado.
Fora isso, te ver é sempre certo, sempre bom, sempre legítimo, honesto, franco. Com poucas pessoas eu ainda posso ser simplesmente, eu.
O ruim vai ser o dia em que a gente não conseguir rir mais das nossas próprias trapalhadas.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Escutando sem parar


Eu e Heleninha escutando sem parar (e ela diz que a música é doída, e eu concordo com ela)


I pack my case.
I check my face.
I look a little bit older.
I look a little bit colder.
With one deep breath, and one big step, I move a little bit closer.
I move a little bit closer.

For reasons unknown.

I caught my stride.
I flew and flied.
I know if destiny's kind, I've got the rest on my mind.
But my heart, it don't beat, it don't beat the way it used to.
And my eyes, they don't see you no more.
And my lips, they don't kiss, they don't kiss the way they used to, and my eyes don't recognize you no more.

For reasons unknown; for reasons unknown.

There was an open chair.
We sat down in the open chair.
I said if destiny's kind, I've got the rest on my mind.
But my heart, it don't beat, it don't beat the way it used to.
And my eyes, they don't see you no more.
And my lips, they don't kiss, they don't kiss the way they used to, and my eyes don't recognize you at all.

For reasons unknown; for reasons unknown.

I said my heart, it don't beat, it don't beat the way it used to and my eyes don't recognize you no more.
And my lips, they don't kiss, they don't kiss the way they used to, and my eyes don't recognize you no more.

For reasons unknown; for reasons unknown; for reasons unknown; for reasons unknown.

(The Killers - For Reasons Unknow)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Resposta

L, pensando bem no depoimento que você me escreveu, resultou nisso:
Você me chamou de diversas coisas e egocêntrica, elitista quem sabe?
A minha definição de elitista é simples e aqui é usado deliberadamente num sentido crítico de desaprovação de determinadas condutas ou comportamentos políticos, sociais e culturais vistos como indesejáveis na constituição de uma sociedade.
E segundo você, ainda sou louca.
Pensando bem, você tem toda a razão. Levo o crédito de que o amor é mais forte que os sinais de morte, o desejo da valorização da dignidade da pessoa, sonho e defendo a potencialidade humana, sobretudo daquelas em quem a sociedade de consumo não confia, a luta constante contra o desânimo, sabendo que o risco da esperança nos impele a propor caminhos sem ter o mapa exato do futuro. Os franceses costumam chamar de "loucos de Deus". Se eu acreditasse em Deus, possivelmente veria nisso um elogio.
Já dizia um grande psicanalista chamado Jurandir Freire que quem põe o dedo na ferida corre sempre o risco de provocar o sangue da incompreensão, do desagrado. (E diante das nossas elites, vai fundo na cultura da indiferença), porque realmente acredito que a indiferença anula quase totalmente o outro na sua humanidade.
Quem é elite e egocêntrica? Eu ou você?
O que me chocou não foi tanto a truculência das agressões verbais, mas a impotência de ter que lidar com isso sozinha, e eu aprendi a reagir a qualquer sentimento de indiferença, pessoal ou coletiva.
Quem disse que eu era utópica quando afirmei acreditar numa nova consciência, uma sede de participação, a afirmação positiva da pluralidade e da diferença,o valor do tempo presente, a radicalidade da dignidade humana?
Deixando claro: aceitei o depoimento, e até acatei as ofensas e logo depois o "te amo", mas não jogue para cima de mim o lado privado da sua violência pública, porque você sabe quem eu sou e eu sei muito bem quem você é.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Old Memories


"I want you" cantada por Bob Dylan, repetidas vezes.
Tentando, tentando amor; só economizando forças para mais um round. E sem música não há dança interna, e a gente já falou sobre isso.
A gente já falou sobre tanta coisa e não cessa, não cessa
Não.
E nunca chegamos a lugar nenhum, só lugares-comuns.

"As pessoas me dizem que é pecado
Saber e sentir tanto por dentro
Eu ainda acho que ela era minha alma gêmea
Mas eu perdi a aliança
Ela nasceu na primavera
Mas eu nasci tarde demais
A culpa foi de uma simples virada do destino".

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Conversa com Tiburi e Veríssimo

Semana passada em frente à TV sem grandes esperanças fiquei animada em saber que a filósofa Marcia Tiburi iria dar uma entrevista ao Jô. Fiquei ligada esperando por ela e não fui decepcionada.
Tiburi não faz pose, não dá uma de intelectualóide de décima categoria - porque é intelectual de primeira - e consegue aproximar a filosofia dos pobres mortais que nunca ouviram falar de Heidegger, Hannah Arendt, Sartre ou qualquer outro.
Estava concedendo a entrevista para divulgar seu novo livro, que ainda não li, e da explicação do livro fez uma constatação interessante: duas ou mais pessoas acham que conversam, mas não o fazem. Não há continuidade ou fluidez no discurso, porque cada um está interessado em dizer sobre ele, assim o questionamento não é e nem precisa ser utilizado.
Exemplo: - Fulano, você assistiu tal filme?
- Sim Cicrano, eu gostei muito, me identifiquei com a personagem principal.
- Eu também gostei. Gosto muito daquela atriz.
E o assunto chega ao fim.
Isso poderia ser determinado, nominado uma conversação?
Curiosamente nesta semana li uma coluna de Luis Fernando Veríssimo que dizia sobre a "desconversa". Anônimos ou conhecidos ao estarem perto - num elevador, esperando o avião para embarcar, passando pela portaria do prédio - se satisfazem em perguntar e falar sobre o tempo:
-Esfriou hoje não?
Há como existir um desacordo conferindo o sentimento de cada um a respeito da temperatura vigente?
Se existir uma sorte maior pode-se até conseguir falar sobre a novela das 8.
Não sei se porque sou psicóloga ou por ser do jeito que sou acabei psicóloga, gosto de estórias, contadas de todas as maneiras: pelas pessoas, pelos filmes, pelos livros, pelas músicas e dialogo com elas. (As vezes um monólogo é mais instrutivo do que uma "conversa" à dois).
Me pergunto: Será que as pessoas cansaram de discutir ou elas nunca provaram o sabor de conversar verdadeiramente com o outro a ponto de no final da conversa estarem deliciosamente cansados?

terça-feira, 8 de julho de 2008

Séries de Tv


Não é uma opinião apenas minha: os seriados norte-americanos atualmente são muito mais divertidos, interessantes, inteligentes do que os filmes do mesmo país.

Nessas últimas semanas eu aluguei a quarta temporada de Lost e a terceira de Desperate Hosewives e os filmes "Onde os fracos não tem vez" e "Sweeney Todd, o barbeiro demoníaco da rua fleet". Haja vista que os filmes são respectivamente dos irmãos Coen e Tim Burton, achei que no mínimo me divertiria. Nem isso, cansaço e tédio.
Já com as séries eu consegui o que o cinema deveria te proporcionar: viajar outros mundos e interagir com as imagens que você vê, se identificar, sentir amor/ódio por personagens, torcer por alguma trama, debater determinados assuntos e outras mil coisas.
Conversando com o gerente da locadora que eu sou associada, ele me informou o que eu já pressentia: lucra mais com as séries que com os filmes propriamente ditos.

E há uma porção ali de fazer qualquer olhinho interessado e antenado brilhar: A Sete Palmos, Ally McBeal, Seinfield, Friends, Família Soprano, Heroes, Prison Break, Dr. House, The L Word, O Desafio, Alias, Sex and the City, Grey's Anatomy, Bones e Gilmore Girls entre outros.
Os roteiristas de cinema estão mal, mas os de tv estão impagáveis.

Recomendadíssimo!!