segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Estranheza

Mas que troço estranho esse de viver e sobreviver e se deleitar e sorrir e chorar e xingar e enlouquecer e voltar a ser sã e desaparecer, sumir, relembrar e falar e permanecer em silêncio e acreditar e ter esperanças para não ter mais esperanças, para sentir e não sentir nada mais e de novo recomeçar e pensar e sonhar em não pensar mais e ser o que não se é ou continuar insistindo em ser essa coisa sem nome, sem passo, sem amor, sem...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Advertência em um bar britânico

"Não jogue pontas de cigarro no chão. Elas queimam as mãos e os joelhos dos clientes quando eles saem daqui".
Faz todo sentido.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Eles, novamente


Já há alguns dias atrás eu fui ao cinema conferir "Arquivo X: Eu Quero Acreditar", segundo longa para a série de mesmo nome.
Não postei antes por falta de tempo e não por não ter gostado do filme, além de achar que Arquivo X merece sempre uma atenção especial, já que a série foi o maior fenômeno televisivo dos anos 90 e fez todo o mundo acompanhar a saga dos agentes do FBI, Fox Mulder e Dana Scully (fenômeno parecido com "Lost" nos dias atuais) atrás de eventos não explicáveis, criaturinhas verdes e todo o tipo de bizarrices.

Quase 10 anos depois do fim da nona e última temporada, eles estão de volta, e eles são o melhor do filme. A química entre David Duchovny e Gillian Anderson é visível e gostosa de acompanhar, eles se entendem e quem acompanhou toda a história sempre quis acreditar como Mulder, mas sempre teve o pé atrás como a Scully (acredito eu).
De fato, querer acreditar é uma coisa, acreditar são outros quinhentos.

De um lado a crença e a fé, do outro, a ciência. Alguns são mais inclinados a acreditar que muita coisa nós ignoramos, que muita coisa pode ser conspiração e que sim, possa existir diversas possibilidades para um mesmo fato, dependendo de quem conta e outros preferem acreditar naquilo que pode ser comprovado, eu fico na última categoria e talvez por isso, goste mais do personagem de Anderson do que do Duchovny.
Outro fato é que as relações humanas podem superar essa diferença entre fé x ciência e conviverem (no caso dos dois, eles mais do que parceiros, agora são amantes), mas a ciência não precisa e é atrapalhada pela fé, logo elas não convivem muito bem.
Internamente, acredito que a diferença entre os dois personagens é colocada de maneira bastante proposital para tentarmos tolerar o que não é nosso, é do outro e convivência é exatamente isso. Mas, mais do que tolerar elas podem se complementar.
Mulder em determinado momento do filme diz que só chegou vivo para contar outra história porque sempre teve como razão e equilíbrio a parceira, e ela, não diferente, só conseguiu acreditar (nela mesma) por causa dele.

Algumas (muitas) coisas da série fora perdidas neste filme que era bem característico, como a tensão sexual entre os dois e as tramas sobrenaturais. O suspense não é muito aterrorizante, mas a edição é incrível e as cenas de ação são primorosas, além dos diálogos dos dois atores.

Vale o ingresso, porque voltar a ver Scully e Mulder juntos, convenhamos (para os fãs da série), não tem preço.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Sonhos, outra história


E ele me diz que havia sonhado com um menino de seu passado e que conscientemente nem lembrava dele, e eu peço pra ele me contar sobre o sonho e a infância.

Sobre a infância: ele era um menino gordinho e desajeitado que usava um óculos vermelho, seus pais não tinham condições financeiras de dar os brinquedos que ele sonhava e depois da aula ele ia para a casa do tal menino que tinha uma irmã. Ele se dava bem com a menina, mas o garoto era um pouco mais velho e zombava dele, tinha todos os melhores e mais caros brinquedos mas não deixava meu amigo brincar, e ele voltava todos os dias humilhado pra casa. E o sonho foi apenas a reconstituição da realidade passada.

Hoje ele tem todos os livros que deseja comprar (os novos brinquedos) e já não é mais desajeitado, fez muita ginástica e ficou um homem bonito mas há dias ele tem reclamado de que não se sente bem fisicamente e com muitos problemas, nem emocionalmente.

Então, meu querido, o tal menino apareceu só para te dizer que no fundo, no fundo, você ainda é em parte aquele garoto que queria ser enturmado, descolado, bacana e cheio da grana. E mesmo que hoje você seja espetacular, infelizmente os fantasmas do nosso passado nos acompanham, todos os dias, consciente ou inconscientemente (você mesmo não acredita ser espetacular), porque a gente sempre está aquém daquilo que sonhamos e idealizamos ser.
Você não é bombeiro e eu não sou astronauta, e todas as histórias que contávamos deixou de existir, e muitas vezes, por um segundo, o que desejamos é ser uma pessoa completamente diferente do que a gente é. Porque ser todos os dias a mesma coisa, cansa, enjoa, maltrata...

E eu te amo tanto. Amo o gordinho que lia gibi e amo o homem inteligente e cínico que você se tornou.
Sempre amei.

"Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados...como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas...possuia o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria...
...mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho...comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia." Clarice Lispector em "A Felicidade Clandestina".