sexta-feira, 28 de março de 2008

Na madrugada triste...

"E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,
Cauta, detém. Só modulada trila
A flauta flébil... Quem há-de remi-la?
Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora..."

(Camilo Pessanha)

segunda-feira, 17 de março de 2008

E não é?

"Quando o amor ou ódio não participa do jogo, a mulher é uma jogadora medíocre". Nietzsche.
Pensamento roubado do msn do Rodrigo.

domingo, 16 de março de 2008

Verdades no divã

Li três dos cinco best-sellers do psiquiatra e terapeuta Irvin D. Yalom: "Mentiras no Divã", "Quando Nietzsche Chorou" e "O Carrasco do Amor".
O estilo popular e muitas vezes simplório do autor não me atrai, não me convence, não me estimula e nada do que li me emocionou. Além dos estilos terapêuticos divergentes: Ele, me parece, um humanista, eu, psicanalista. O "aqui e agora" nunca me seduziu racionalmente.
Mas tenho que me redimir e assumir que eu gosto que ele esteja entre os mais vendidos, afinal, entre tantos livros de auto-ajuda, que não ajudam, há o interesse aqui de narrar histórias em que a terapêutica não é perdida, de má qualidade, perversa ou nociva.
São histórias de dores, feridas abertas, cicatrizes, loucuras, neuroses e psicoses, resumindo, são histórias de gente. E entendo porque as pessoas gostam: porque elas se identificam, se enxergam nas dores do "demasiado humano".
Mais do que isso, Irvin D. Yalom é sincero e não se coloca na posição médica frequente da nossa sociedade, no lugar de poder. Ele comunica aos seus leitores (assim como para seus pacientes) que ele tem as próprias cicatrizes, os próprios traumatismos e muitas dores confusas não identificadas por ele.
Talvez a minha reserva em relação à ele seja porque nada do que ele conta me é novo, e penso que um estudante de primeiro ano de faculdade de psicologia ache o mesmo. Mas, se ele consegue e me parece que o faz habilidosamente, emocionar e fazer com que seus leitores questionem conscientemente os seus problemas, espero honestamente que as vendas altas continuem.
Ponto pra ele.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Tocando sem parar

For you I was a flame
Love is a losing game
Five story fire as you came
Love is a losing game
Why do I wish I never played
Oh, what a mess we made
And now the final frame
Love is a losing game
Played out by the band
Love is a losing hand
More than I could stand
Love is a losing hand
Self professed... profound
Till the chips were down...know you’re a gambling man
Love is a losing hand
Though I’m rather blind
Love is a fate resigned
Memories mar my mind
Love is a fate resigned
Over futile odds
And laughed at by the gods
And now the final frame
Love is a losing game
(Amy Winehouse - Love is a Losing Game)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Delete

É possível que lembranças, memórias, cicatrizes, envelhecimento e marcas corpóreas estejam inter-relacionadas?
Já escrevi anteriormente que nós não sabemos lidar com a dor e que para isso procuramos nos afastar dela com paleativos. Se o sujeito tem insônia, ele toma um comprimidinho para dormir, mas não sabe e nem quer se conscientizar das causas do seu problema. Isso leva tempo e não há tempo a perder.
Numa sociedade imediatista não podemos ter o luxo de nos concentrar com as razões, mas gastamos todo o nosso tempo com as consequências delas no nosso corpo e algumas vezes com de nossa cabeça. Com isso perdemos o melhor de nossa existência.
Se estamos envelhecendo, pagamos alto para passarmos por inúmeras cirurgias plásticas que nos modelam como a mulher/homem do filme da semana passada de Hollywood (Na minha modesta opinião, uma das maiores bizarrices da cultura ocidental contemporânea).
E como apagar da mente eventos que não queremos mais acessar? Não possuíndo mais eventos.
Procuramos e nos esquivamos cada vez mais de termos acontecimentos grandiosos, porque sem eles, não teremos traumas grandiosos.
O filme "O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" de Michel Gondry nos revela sobre tais aspectos mais que muitas pesquisas científicas (A arte ainda nos salva da barbárie geral).
Se fosse possível apagar de nossa vida relacionamentos que não foram para frente e nos fizeram sofrer, faríamos? Imagino que nesta sociedade boçal, teríamos filas maiores que a do sistema de saúde brasileiro para tal procedimento.
Apagar-se-ia a nossa dor e nossa tortura, e com ela, todas as nossas lembranças boas, felizes e agradáveis de tal relacionamento.
Apagar-se-ia a nós mesmos.
Sartre já disse que somos a soma de todas as nossas escolhas, consequentemente, de nossas ações.
Mas, como produtos prontos, removemos de nós todos as cicatrizes e marcas de nossas experiências no corpo e não desejamos mais (pelo menos conscientemente) grandes amores ou esperanças, deduzindo que nos trará grandes dores de cabeça.
Estamos apagando das nossas vidas, o essencial, o que dá razão para existirmos e continuarmos existindo.
Se apagamos e não desejamos a nossa própria história, qual o significado de estarmos vivos?