quinta-feira, 31 de março de 2011

Terráqueos


O escritor Mark Twain disse: "De todas as criaturas já feitas, ele, o homem, é a mais detestável. Ele é a única criatura que causa dor por esporte, com consciência de que isso é dor".

Retirei essa frase do documentário de 2005, "Terráqueos", que infelizmente só assisti hoje. O filme compara o "especismo" da espécie humana com outras relações de dominação, como o sexismo e o racismo. Nada mais justo, já que são bem parecidos.

Através de cenas fortíssimas tiradas de fazendas industriais, lojas e abrigos de animais, o filme ainda explora o comércio de pele e de couro, além do entretenimento que humanos obtém de tragédias animais, como rodeios, pescarias e a caça.


O desrespeito que enxergamos todos os dias de seres humanos com outros semelhentes à ele é ainda maior quando esse ser humano acredita que é superior à outra espécie. Triste e inteiramente relevante o documentário narrado por Joaquin Phoenix, nos deixa bastante conscientes da devastação, da dor, da crueldade e da maldade cometida contra seres que estão na Terra assim como nós e merecem desfrutar dela.


Seja mais consciente do que você come, da onde vem suas roupas e das torturas cometidas contra animais, assista "Terráqueos" e talvez como eu, mude seu jeito de se alimentar, de se vestir e de se divertir. Não acredito que a mudança seja mais difícil que morrer agonizando no seu próprio sangue...

quarta-feira, 23 de março de 2011

As mulheres da minha vida (uma carta para mim mesma)

Mãe, tantas vezes te odiei sem te querer mal, tantas vezes te amei e amo. Te culpei por erros que mães cometem querendo o bem e, é o bem que restou em mim que guardo para você.
Ma, apesar de inicialmente não te dar credibilidade, você é hoje minha heroína - dessas que eu gosto - de carne, osso e lágrimas. Dar risada e chorar com você é aprendizado constante e diário.
Querida P., você foi a primeira mulher que me encantou e me deu a mão e me escutou. Eu tinha só 15 anos e na realidade, eu era só uma garota medrosa e desajeitada, mas nos meus sonhos você foi minha primeira namorada.
L., me sinto amargamente perdida porque não te ajudei quando mais você precisou; quem surtou fui eu (acredite), mas as lembranças de pó de guaraná, roupa de cama branca e assuntos médicos, e mais tarde, psicológicos, passam por minha cabeça frequentemente. E torço, torço todos os dias para que em um desses dias eu possa e tenha coragem de te ouvir tocar piano novamente, lindamente.
Juju, você é irmã de sangue, embora eu já tenha jogado na sua cara - lamentavelmente - que não éramos da mesma família. Sua maneira tagarela de implorar atenção é comovente, e eu me comovo com você todas as vezes, porque todas as vezes você me surpreende.
Querida D. C., você foi o auge, o cume, o abismo, o chão. Nunca sofri tanto por ninguém como chorei por você. Seu brilhantismo me despertava mentalmente e fisicamente meu corpo, meu tudo, era seu. Mas você só disse "eu te amo" uma vez, aquela, única, quando eu já estava indo embora, e eu fui, e você ficou e honestamente, só quero que você seja imensamente feliz entre livros, abraços, lembranças e esquecimentos.
H., um dia você me disse que eu não te levava a sério; seriamente falando, eu não levava mesmo, mas porque eu fui infantil e totalmente desumana com seus sentimentos. No fim, em mim, fica sempre a imagem da mulher bonita, elegante que despertava para a vida quando divagava entre vinhos extremamente caros e sonhos loucos. Uma imagem perfeita.
M., você foi um dos erros que cometi, acreditei em você, mentindo pra mim, que uma criança pudesse ser uma boa companheira. Você foi. Apenas nos bares que a gente passava. Mas não te quero mal, espero que tenha amadurecido e deixado de ser uma garota mimada e perdida.
F., tantas e tantas vezes penso em você que eu me canso dos meus pensamentos e lembranças-mesmas, mas nossa história teve um final horroroso, fragmentado entre cinema, tiroteio e morte. Mas nem o fim, com traços surreais de filme americano arranca você de mim. Muito do que sou hoje é culpa sua, não sei se isso é um elogio ou se jogo a culpa em você. A minha cruz tatuada no braço e no coração é cicatriz de ferida aberta.
J., olhando para você hoje, sinto pena e esperança. Não quero que continue perdida em seu poço escuro - ou será que você sempre esteve lá e eu que não notei? - queria que você levasse as coisas um pouco mais a sério, porque as brincadeiras me cansam e honestamente, elas te derrubam ainda mais. Te amo tanto que me dói a sua dor.
D., você é minha irmã sem ser de fato, é a única que consegue ler meus pensamentos antes mesmo de eu tê-los. Somos tão parecidas que te chamo de espelho. Somos espelhos quebrados de uma vida que não entendemos e não entenderemos nunca. Mas as aberrações diárias ficam mais leves tendo você como amiga.
Mi, não acho que te tratei bem quando estávamos juntas; não é querer me redimir de nada, mas para variar, minha cabeça estava tão mal quanto minhas atitudes. Você sempre foi extremamente carinhosa e hoje em dia eu dou valor. Quero que outra pessoa também dê. Estou torcendo.
Mo, entre bebidinhas no final da tarde, apartamento gigantesco que não podíamos pagar, crises conjugais, tribunais, Santos e Espírito Santo, foi crescendo uma amizade franca, daquelas que não precisa-se esconder nada. Tudo às claras, assim como o meu carinho e respeito por você.
N., você foi o amor mais louco, mais irresistível e o mais irresponsável que tive. A culpa não foi apenas sua, eu concordei com você nos joguinhos de insanidade. Compactuei com brigas e ciumes inventados, chorei por você, acredite. Mas esse tipo de amor sem paz não é o meu amor ideal. Você certamente tem um lugar guardado no meu coração.
Querida Julinha, você nem tem um aninho e já mudou a minha vida, muda todos os dias quando aprende pequenas coisas, como balbuciar e ficar de pé por sua conta e risco. Espero e torço para que seu caminho seja mais alegre e menos tortuoso do que dessa sua velha tia. Estarei perto sempre que alguém te machucar, ou estarei sempre perto e ponto.
K., você é a minha realidade. E não só de coisas boas a gente vive. Casamento, união, cotidiano é para os fortes, fortes que amam. E você também é forte o suficiente para não deixar a bola cair, para não deixar que eu caia, para me segurar em seus braços. Só por isso já valeria. Te admiro por tudo o que me mostra de você e a todo dia você me revela a beleza de que é feita, humana, simplesmente humana e sendo assim, você deixa a minha rotina cada vez mais bela, de encantos sonhados, castelos pensados, planos idealizados e muito amor concreto.
Porque é isso que vale. O amor que eu sinto por você e tantos outros tipos de amor que um dia senti ou sinto por cada uma dessas mulheres e outras tantas que insistem (felizmente) em atravessar o meu caminho.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Bom mesmo

Bom mesmo é sonhar acordada, é comprar rosas pra quem se gosta, é falar que gosta, que ama, que precisa, que não vive sem. Bom mesmo é não ter hora pra acordar, pular de entusiasmo, se reunir com amigos - os inteligentes, de preferência - é ter piscina ou lago ou mar ou córrego pra nadar. Bom mesmo é sorrir de esperança, ouvir música alta, Nina Simone cantarolando, Janis gritando, Jimi tocando. Bom mesmo é assistir filmes bons, no telão ou na telinha, é ler poesia, prosa, teatro, novela, conto. Bom mesmo é filosofia barata acompanhada de cerveja gelada, é ter alguma mão pra segurar, um ombro, um braço pra dormir, é confiar. Bom mesmo é ter mãe e pai que goste da gente. É ter alegria barata e vagabunda, é desfrutar da comida feita na hora, é encontrar novos bares, novos restaurantes, é ter novas saudades. Bom mesmo é reviver tudo de bom, fingir que esquecemos as coisas ruins, é tomar água em dia de calor. Bom mesmo é viajar, seja pra Paris ou pro mundinho interior. Bom mesmo é beijar na boca, é respirar ofegante de surpresa, e ouvir bom dia de quem você quer.
Tem dias que fico mais esperançosa e é bom mesmo.

sábado, 19 de março de 2011

Dor de repente


Aperto no coração de repente. Saudade imensa de você. Da sua ironia fina, de sua risada debochada, da sua cara séria e triste - você previa o que ia te acontecer? - do seu bom gosto. De tudo, o que mais sinto falta, é do seu abraço, que eu já não me recordo como era...

terça-feira, 15 de março de 2011

Curto Alcance


Com o sucesso do filme, "O Segredo de Brokeback Mountain", me interessei em ler o conto que lhe deu origem e adquiri em 2008, "Curto Alcance", da vencedora do Pulitzer, Annie Proulx. O livro conta com 11 contos e têm algo em comum: o estado americano de Wyoming. Na época, lembro que li dois ou três contos e deixei na estante para ler mais tarde os outros. Só agora, li os outros e reeli os primeiros e não sei porquê demorei tanto para devorá-lo. Realmente fantástico, devastador e impiedoso.

Na primeira página do livro, a seguinte frase: "A realidade nunca valeu muito por aqui". Ela foi dita por um fazendeiro aposentado de Wyoming. Um estado cercado de terras, caubóis, montanhas, poeira, neve, bebida, sexo e pouquíssimas distrações. Como diz a resenha do livro: uma terra de ninguém. E como diz uma das personagens do conto "Costa Solitária": Este lugar é triste, meu Deus, como é triste.

Exatamente porque a nossa realidade é completamente outra, é difícil imaginar que ainda exista algum lugar como Wyoming e por isso tão irreal, tão inacreditável e tão verdadeiro.
Em algum ponto do livro, dá uma vontade imensa de gritar. Gritar em nome dessas pessoas esquecidas por todos num buraco imundo, gritar por elas e para elas, em nome de alguma justiça, de alguma alegria, de qualquer tipo de encanto ou magia, livrá-los de uma realidade esmagadora, de uma existência porca e barata e com isso nos livrar de imaginar que podíamos ser nós no lugar deles.

sábado, 12 de março de 2011

Pergunta do dia

Uma de minhas psicólogas me disse uma vez (ou várias???) que eu jamais enlouqueceria. Não tenho perfil. Ela também me alertou que eu racionalizava tanto e tudo que eu praticamente não somatizava nada.
Hoje em dia somatizo tudo. Pego gripe uma vez por semana, dores de cabeças diárias e começo apresentar doenças novas. A pergunta que eu me faço é: e se minha psicóloga errou também ao traçar meu perfil?
Ferradíssima...

domingo, 6 de março de 2011

Carnaval tão meu

Enquanto as pessoas se expremem nos blocos de carnaval por todo o país, eu fico por aqui, em casa, tomando um pouco de vodka, lendo o emocionante relato de Carlos Heitor Cony, em "Quase Memória", e como ele fala de seu relacionmento com seu pai, inevitável que eu pense no meu. Por isso, de vez enquando eu páro a leitura e lembro dos momentos que passamos tão juntos. Nos intervalos ouço Marcelo Jeneci, Marisa Monte, Maria Bethânia, Damien Rice e essas pessoas que me dizem direto no coração. Comprinha de supermercado para comer bem, deitar sem hora pra dormir, embora não consiga acordar tarde, lembrando e reinventando estórias tão minhas, tão próprias. Mais tarde quem sabe um filminho com edredon?
Longe do barulho, da multidão, das músicas repetidamente chatas das escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro, das músicas repetidamente horrorosas de Salvador, me sinto, na maioria do tempo, em paz.
E é claro que sou excessão. Mas na maioria das vezes eu sempre sou. Sem nenhuma novidade. No alarms, no surprises...