quinta-feira, 31 de maio de 2007

Brincadeira de adulto

A gente brinca enquanto a vida brinca com a gente; vai se levando e - provavelmente - não vai se vivendo.
Em um momento a morte brinca com a gente e não há mais volta. Mas nunca pensamos nela como algo que provavelmente vai acontecer, e ela é tão provével e real como nossa brincadeira de negação. Quanto tempo mais a gente vai brincar de fingir?

"Apesar de enlouquecerem,
serão sãos
Apesar de afundarem no mar,
voltarão a se erguer
Apesar de amantes se perderem,
o amor não se perderá.
E a morte não dominará". Dylan Thomas

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Cansaço

Eu estou cansada de tanta fome. Cansada da fome que não se mata, mas que eventualmente te mata aos pouquinhos. Do mundo belo e cruel eu também estou cansada, de me retirarem tanta energia e vontade de vida. Cansada da banalização do que é essencial, da glorificação do ordinário, da mesquinhez.

Do amor me canso às vezes, do trabalho que dá, que mata também. Cansada de não entender o significado de tudo isso, das dores, das perdas, dos infortúnios. Exausta de me compreender tão pouco e dar quase nada aos que amo – usando a palavra amo – porque não sei de outra que carregue tanto peso. Extremamente cansada de ver pessoas se matando, aos poucos, lentamente, rastejando um pouco de vida, de carinho. A minha solidão não me cansa, me exaspera a solidão e o frio na alma de quem pertenço um pouco. Cansada de não saber rezar e não saber a quem pedir um pouco de bons tratos a quem merece, labutando diariamente um pouco de paz.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

É Proibido Proibir

Nem precisa dizer que o Papa esteve pelo Brasil; ele esteve em todos os noticiários, jornais, programas de televisão massissamente, e pode parecer desrespeitoso, mas cansou. Cansou não porque ele não mereça atenção, cansou porque o que a Igreja Católica prega nos dias atuais é quase surreal. E eu sempre me pergunto, os membros dessa Igreja (não que as outras não tenham problemas, mas estou falando da católica em especial), vivem em que mundo?
Uma das primeiras mensagens do Papa ao chegar ao Brasil foi a condenação do aborto, depois vieram outros vetos, como o sexual antes do casamento, preconceito aberto contra os homossexuais, o não à eutanasia e por aí vai.
Quantas pessoas se mantém castas até o casamento? Desde quando no mundo atual, sexo é só para procriação? Não sou a favor do aborto, e não acredito que ninguém seja, assim como é difícil entender a escolha pela eutanásia; mas sou a favor da não proibição, sou a favor da liberdade de escolha, sou a favor de uma crença que não pregue o pecado, mas a salvação. Já repararam que tudo, absolutamente tudo na Igreja Católica é pecado? E lá se vai a histórinha de paraíso, inferno e o tal do purgatório. Quem de fato, acredita no tal do limbo? Parece conto pra criança permanecer obediente. O problema (acredito eu, que seja um problema), que muitos adeptos dessa fé também acreditam, e por mais que o desejo seja grande de por exemplo se aventurar em um relacionamento homossexual, de realizar um aborto porque não têm condições de criar mais um filho numa pobreza absurda, por medo do "juízo final", eles se corrompem (corromper a vontade e o desejo, em suma, a condição humana de ser livre) para viver nas leis de uma Igreja que vive cercada de luxos, enquanto aqui, as pessoas morrem de fome.
Aceito a fé, acredito na força da fé, mas não acredito e desaprovo o fanatismo religioso que mais do que promover a paz, promove a segregação de milhões de indivíduos.
A Igreja Católica poderia repensar os caminhos que percorre, e estar plenamente consciente de que os problemas na Terra existem, e para muitos, o paraíso ainda está muito distante.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

A Hora da Estrela

O Museu da Língua Portuguesa está comemorando um ano de funcionamento em São Paulo e nada melhor que uma exposição da escritora ucraniana/brasileira Clarice Lispector.
Fui conferir correndo - ainda mais sabendo - que tinha gente muito, muito bacana por trás desse projeto, como Julia Peregrino, Ferreira Gullar e Daniela Thomas.
Trinta anos após sua morte Clarice é tratata como a maior diva da literatura brasileira. Evasiva, confusa, contraditória, difícil; ela é tudo isso e mais que isso, é necessária. Num mundo onde o indivíduo se perdeu dele mesmo, a escritora é um convite para um mergulho na própria alma, e o que é nossa alma senão todos os adjetivos impostos à Clarice? Mas já digo que entrar no universo particular da escritora não é nada fácil, a gente se perde, se acha, se perde e se acha no nosso próprio mundo subjetivo. Ler e amar a obra de Clarice é amar o que há de mais puro, frio, ingênuo, cruel e triste de nossa condição humana, ler Clarice com afinco é mais informativo e ilustrativo que cursar todo um curso de Psicologia, ler Clarice é como enfrentar a própria vida árdua de cara, as mazelas humanas; um mundo caótico, denso, sofisticado. O mundo real.
Realmente, Clarice Lispector não é para todo mundo (e isso não é ser elitista), é só para quem quer enfrentar o medo do escuro que há dentro de todos nós.

"Somente na fotografia, ao revelar-se o negativo, revelava-se algo que, inalcançado por mim, era alcançado pelo instantâneo: ao revelar-se o negativo também se revelava a minha presença de ectoplasma".

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Estranheza

Este é um daqueles dias em que me senti sozinha mesmo estando cercada de gente.
A diferença é que hoje o sentimento de solidão não me causa estranheza, nem tédio, nem desespero, nem dor. Nem nada...minto, causa uma paz surpreendente. E isso é estranho.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Breve Nota Sobre o Amor

Nos últimos dias conversei com alguns amigos sobre o amor, a paixão e o desejo. Coisas distintas que muitas vezes colocamos no mesmo pacote. A grande pergunta das conversas ou do meu monólogo é se o amor é sempre fadado ao fracasso. Algumas pessoas responderam que sim, que todos os amores, um dia, acabam. Outros responderam que ele muda de forma conforme o tempo passa, e muito poucos disseram que ele sobrevive meio a vida caótica que levamos.
Eu sou da terceira opinião, afinal, por que amor materno não acaba nunca? Será ele tão diferente da vida à dois? Não acho que seja, afinal, tanto num quanto no outro, é preciso se dedicar, se doar, conseguir receber, experimentar, sofrer, aprender. E por que será que temos mais paciência para fazermos isso com um filho em relação à um namorado/a ou marido/esposa?
Quem foi que disse também que amor de mãe é incondicional? Já senti muitas e outras tantas vezes o olhar de ódio da minha mãe direcionado à mim, de desapontamento, de cansaço, e de vergonha. Também se odeia filho, mas filho também é perdoado mais facilmente.
Então porque alguns relacionamentos de casais duram tão pouco? Quando começam juntos, se amam desvairadamente, dois meses depois, se odeiam loucamente. Por que não temos a mesma paciência com o outro como se o outro fosse de fato (naquele momento) único, como um filho?
Só consegui chegar numa resposta que é meio clichè, mas que me parece verdadeira. Porque desejamos e nos apaixonamos, mas não amamos. E podemos desejar muitos e muito, podemos nos apaixonar diversas vezes por mês, podemos levar pra cama desenfreadamente inúmeros casos (desejando e passionalmente), podemos até ter carinho, mas são poucos que conhecem de fato o sentimento amoroso, esse que te faz ficar acordada, preocupada, este que sabe enxergar o defeito do companheiro/a, porque só a paixão é cega, este que se alimenta da mediocridade dos dias, do passar das horas, este que te absorve e te alimenta, este que faz a pessoa viver para o outro além de viver apenas para si, o único sentimento capaz de perdurar.
Que nos apaixonemos menos e nos amemos mais.