Demorei quase um ano para terminar a obra do argentino Alan Pauls, "O Passado". O livro que foi transformado em filme com o bonitinho Gael Garcia Bernal. Não sei qual é o mais chato, o livro ou o filme; me parece que o autor quis revisitar um pouco da escola literária romântica, porque há tantas descrições e tão poucos diálogos que se ele fosse objetivo, o livro teria 100 páginas e não quase 500.
Mas falando de coisa boa, não é só de José Saramago que a literatura portuguesa vive atualmente. Me foi apresentado o escritor José Luis Peixoto, com seu livro incrível, "Uma Casa na Escuridão". A escrita é de uma beleza indescritível, e é um daqueles casos em que a tristeza, o caos, a desordem podem se tranformar em algo belíssimo. Porque de alguma maneira a tristeza é bonita. Fácil é enxergar beleza no belo, difícil é ver beleza no feio.
"Dentro de mim, havia aquele cemitério a anoitecer, o frio insuportável de um inverno distante, um inverno na memória e frio, mais frio, ainda mais frio, insuportável e mais frio ainda. Um inverno que se recorda por ter sido o inverno mais frio da vida. Um inverno inteiro. Todas as noites de um inverno passados no cemitério. Um inverno frio de mármore. O frio daquela campa, daquele corpo e daquele amor definitivamente sepultado no interior da minha pele, em cada instante da minha pele de mármore, na cara, no pescoço, no peito. Carne congelada, sangue congelado, escuridão congelada".
E pra terminar, comprei e já li um bocado do novo livro da Lionel Shriver, a mesma de "Precisamos falar sobre o Kevin", chamado: "O Mundo Pós-Aniversário". O desenrolar é sobre uma mulher casada há nove anos que sente atração por um outro homem, e simultaneamente o livro conta a vida dela em dois casos, se ela traísse o marido e se ela não o fizesse. Parece banal, mas tô achando que nada, nenhum assunto que essa mulher escreve é banal. Muitíssimo bem escrito, que prende o leitor e com coração, o coração que falta na obra de Alan Pauls que tirando a beleza estética do livro não sobra nada além do tédio.
Obs: a foto é da escritora Lionel Shriver. Sou fã já, muito fã.