Um dia, há alguns anos atrás, uma menina muito querida, porém um pouco louca, me disse que se cortava com facas e canivetes para que seu sangue "preto e impuro" saísse do seu corpo.
Ela não é muito mais doida que nós, "seres normais", que apesar de levarmos nossas vidas acima de qualquer suspeita, cometemos nossos pecados, nos sujamos por tão pouco e nos machucamos com culpas e remorsos carregados dia após dia.
Minha menina querida tinha razão, seu sangue era tão impuro quanto o nosso, mas como uma vez, disse Freud: é uma pena que na maioria das vezes para entendermos o mundo a nossa volta precisamos estar doentes.
Ela tem essa compreensão e entende o mundo (e chora e se machuca por ele). A maioria que não tem rótulos psiquiátricos e não se auto-mutilam não entendem bulhufas desse mundo.
Eu não entendo mais.