sexta-feira, 24 de agosto de 2007

E de Novo as Mulheres...

Ultimamente tenho pensado muito sobre a condição feminina, como venho escrevendo aqui. E essa condição pode ser vista em dezenas de filmes considerados recentes como: "Meninos não Choram", "Casa de Areia e Névoa", "Por um Sentido na Vida", "Garota, Interrompida", "Volver" e "Gia", para citar apenas alguns.

O que tenho percebido é que não existe a “mulher”. Existem mulheres. Existem histórias de mulher.

O modo como a sociedade se expressa é uma resultante direta de sua estrutura e ideologia. A maneira como a sociedade vê suas mulheres também está intimamente associada ao modo pelo qual expressa sua masculinidade. Onde as mulheres são severamente limitadas, ou até oprimidas, há também, com probabilidade, o culto da pederastia como parte do tecido social. Considere-se o papel muito restrito que as mulheres tinham nas sociedades celtas, onde eram tratadas como se fossem quase subumanas, e veremos o culto do amor entre os machos guerreiros, da fraternidade masculina e do ritual de pederastia com os adolescentes. A Grécia clássica é, naturalmente, o grande exemplo: as mulheres ficavam confinadas em seus aposentos e não eram bem vistas em público (a menos que fossem cortesãs inteligentes); e os meninos eram idealizados como os grandes objetos de amor. Nessas sociedades, ser passivo na relação era ser motivo de desprezo; isso era aprovado somente para meninos e mulheres, e entre os homens mais velhos tornava-se motivo de sátiras e piadas vulgares, situação que ainda perdura.

O homem que permitisse ser usado como mulher estava rebaixando a idéia de masculinidade. O socialmente aprovado era uma forma de fascismo sexual, já que o parceiro superior assumia a iniciativa e somente ele podia iniciar um ato sexual e penetrar o corpo do parceiro, numa situação que não existia reciprocidade social nem sexual. Nessas sociedades falocêntricas e despóticas, o sistema político engendrava a forma sexual. A hipótese de que as estruturas políticas moldam a sexualidade se torna mais forte quando se olha para outras sociedades.

Nossa cultura deixa aos poucos de se referir a valores simbólicos, exalta a autonomia do indivíduo, mas, paradoxo previsível, chora sobre os belos tempos das certezas perdidas e conclama com razão, que faltam critérios éticos. A época que vivemos oferece duas opções substitutas: em vez de critérios, encontramos imagens positivas ou negativas de homens e mulheres com os quais é recomendado se identificar ou não. E, em vez de sabedorias tradicionais, encontramos autoridade do que é apresentado como a irresistível evidência do real, biológico, químico, anatômico e, por conseqüência, científico.

É como se houvesse um manual ou guia para a felicidade, mas não há, e estes filmes contam histórias de algumas mulheres, de alguns abandonos, de faltas, de carências. Contam histórias de seres humanos, sem se preocuparem em rotular a pessoa da história, isso, o cinema deixa para a sociedade que o assiste.


3 comentários:

Unknown disse...

Sociedades celtas? Devo ser muito ignorante mesmo.

Nina disse...

Por quanto tempo a sociedade ainda vai julgar e maltratar e "matar" de diferentes maneiras? Beijos inteiros.

Anônimo disse...

Gostei do "histórias de mulher".
Até porque somos tão diferentes, tem umas que surtam, outras que cuidam.
Tem as que amam tanto...
Beijo com muita saudade.