terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Exercendo (e gostando) do meu lado voyeur

Há uma janela muito perto da minha mesa onde fica o notebook, alguns livros e muita papelada e fico sentada um bom tempo diante dela (da mesa) e passo um outro bom tempo diante da janela. Já vi coisas interessantíssimas acontecerem diante dos meus olhos, mas faz uma semana que eu venho acompanhando a saga de uma família que vive em uma casa ao lado do meu prédio.
A saga do que acontece no quintal, claro.
Durante três dias seguidos, dois rapazes que devem ter no máximo 18 anos, dançaram todas as coreografias de todos os ritmos existentes no universo - e quando eu digo dançaram, não como um hobbie, mas com uma aplicação típica dos dançarinos do Bolshoi. Um brigava severamente com o outro quando este errava. De vez enquando, olhavam pra cima e me avistavam olhando para eles e esse fato, me parece, não os incomodou em absolutamente nada. A dedicação era a mesma. De vez enquando a mãe (acho que o é), dava o ar da graça e dançava junto - e dançava bem.
Noutro dia, o cachorro que costumava ter o pêlo preto, apareceu cor-de-rosa com laço vermelho na cabeça e ontem, o pai (imagino que o seja) andava em círculos em sua motinho neste quintal que deve ser um pouco maior que o meu quarto. Não foram duas ou três voltas, o cara deve ter gasto um tanque de gasolina andando em círculos (com o cachorro latindo atrás).
Fora o gosto para festas. Todo dia é dia de música alta, cantoria, danças e churrasco. E quando eu digo todo dia, é de segunda à segunda.
Não sei ao certo o porquê de escrever sobre eles, mas penso que essa seja uma família atípica dos dias atuais.
No fundo, tenho inveja e ao mesmo tempo enternecida da alegria precária, do sentimento puro e sem constrangimentos, da espontaneidade e da vontade de ser feliz sem muito esforço. Ou será que essas coisas precisam de esforço?
Não conheço muitas famílias assim, não conheço muita gente assim, não concebo relações assim. E eu sou a pessoa triste da história, porque hoje dei uma olhada pela janela e eles não estavam lá. E eu senti falta da alegria de qualquer um deles, que no fundo, é um pouco também da minha.

7 comentários:

Lara Rodriguez disse...

Sempre morri de inveja dessas famílias que as pessoas chamam de cafonas, suburbanas e etc.
Mas enquanto estava lendo o q v escreveu me vi sorrindo de leve quase como pertencente a uma família inventada e ilusória.
Histórias são para isso tbém certo?
Beijão e saudade

Helena disse...

Olha, acho meio estranho os fatos mas quem sou eu para julgar?
E viva as diferenças!
Beijos.

Unknown disse...

Concordo com a Helena, fiquei cansada de tanta festa..mas o mundo tá lotado de doidos!Tbm observo uma familia ideal aqui vizinha[e parente] que se desfez depois de trinta anos de uma aparente e extrema felicidade..será?

Unknown disse...

Mas assim, sem idealismos exarcerbados o mundo é um lugar interessante, né não?

Nina disse...

não era você quem dizia que as pessoas que exercem todos os dias uma função alienada, no caso aqui, festas, fogem da tristeza e da solidão? não era essa a sua teoria? onde foi parar?

Anônimo disse...

Bonito o texto,poético,gostoso de ler.

Anônimo disse...
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