Ultimamente tenho atendido alguns pacientes e conversado com alguns amigos sobre amor e relacionamentos. E o que me espantou foi que eles possuem características semelhantes: para sair de uma vida depressiva e traumática, se envolvem com pessoas problemáticas ou que não demonstram tanto amor por elas para que a vida se transforme num turbilhão de sentimentos, que possibilita não lidar diretamente com a dor. Previnem a depressão através da agitação criada por um relacionamento instável.
A maioria dessas pessoas vêm de lares desajustados em que suas necessidades emocionais não foram satisfeitas e como consequência, tentam suprir essas necessidades através de outra pessoa, tornando-se superatenciosas, principalmente com parceiros carentes. Na infância não puderam transformar seus pais em pessoas atenciosas e afetuosas, então reagem ao tipo de parceiro inacessível para transformar a pessoa através do seu amor.
Com medo de ser abandonadas, essas pessoas fazem qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento, arcando com a responsabilidade, a culpa e as falhas dele (a culpa nunca é do outro). Na maioria das vezes apresentam também, auto-estima baixa e acreditam que não merecem ser felizes, ao contrário, acreditam que devem conquistar o direito de desfrutar da vida.
Outra característica é que essas pessoas estão muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser que com a realidade da situação (como já disse Cazuza: adoro um amor inventado).
E mais do que toda essa dor suportada, chamam isso de amor. Isso não é amor, é transferência pura.
Relacionamentos nunca são fáceis, mas alguns são extremamente chocantes, porque nos confrontamos com tudo aquilo que em teoria, a gente diz que nunca faria.
Não? Boa pergunta.
"Baby, baby, por favor não se vá
Acho que estou me embriagando na minha depressão" - The Last Blues Song.