domingo, 8 de março de 2009

Escapismo necessário


Só consegui assistir "O Leitor" (The Reader) no cinema hoje, mas valeu a espera.
Mas eu não quero escrever o que a maioria anda escrevendo sobre o filme: a atuação de Kate Winslet. Isso para quem entende de cinema, sabe que a atriz britânica é brilhante, seja qual filme ela esteja presente. Quase unanimidade.

Eu sai do cinema quase agora e ainda estou paralisada, emocionada, intrigada a respeito da história contada com uma sensibilidade incrível. E são nesses momentos que eu gosto de escrever.
Do que se trata o filme? Eu não sei bem responder. Alguns podem ter uma resposta pronta, mas acredito que ele trate - pelo menos pra mim - sobre o amor pela arte. Nesse caso, a arte da literatura, ou o amor pela literatura, ou mesmo o amor que se instala entre as pessoas através de gostos e encantamentos pelo que os emociona.

Sempre acreditei que a arte nos redime das nossas vidas difíceis, da realidade dura, crua e nua, dos traumas, das insanidades cometidas dessa civilização, das guerras, do trânsito caótico, do trabalho árduo, da pouca grana, da insensibilidade de muitos, do nosso olhar viciado e tantas outras coisas que tornam nossas vidas muito, muito complicadas. É um novo olhar, uma nova perspectiva, é o sonho da realidade, é a imaginação, a poesia que nos liberta dessa nossa condição humana tão arcaica.
Muitas vezes pergunta-se a intelectuais para que serve a arte e logo escutamos discursos longuíssimos e chatos. Mas a resposta (ou respostas) podem ser tão mais simples, porque não se trata de dialéticas ou charadas, mas de olhares, da subjetividade humana de criar escapismos tão fundamentais para enfrentarmos os nossos problemas diariamente. É uma forma de respirar um outro ar, não tão poluído.
O filme não é maniqueísta, não faz julgamentos, não censura posturas, nem é focado em questões morais. Ele é livre de intenções éticas, assim como a arte de forma geral. A arte é, felizmente, anarquista, não é elitista, como pensam muitos, ela é popular, é geral, é coletiva. Encanta pobres e ricos, culturas de todo canto do mundo, e assim deve ser.
Então, quem me lê nesse blog e como eu, gosta de cinema, de literatura, da arte, e ainda não viu o filme, corra para o cinema e se esconda um pouco do cotidiano perverso que estamos inseridos.

"Temos a arte para que a verdade não nos destrua". Nietzsche.

"Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim". Freud.

5 comentários:

Valentina disse...

É o que eu estava falando com você agora no msn: difícil NÂO falar da Kate Winslet porque ela é tão sensacional e é tão a alma do filme que as vezes a gente se perde na atuação dela mas como você escreveu é sempre mais gostoso olhar uma visão mais poética de algum tipo de 'crítica' sobre arte do que os monólogos dos intelectuais ou pseudo-intelectuais.
Eu fico me perguntando: e as pessoas que não são ligadas na arte em geral, lidam com o cotidiano de que forma? Existe um outro escapismo tão eficiente?

Lara Rodriguez disse...

V. está certa.
Se não fosse a arte eu já tinha me destruído.

Fernando Bassat disse...

Primeiro tenho que dizer que é um filmaço, segundo, atriz colossal e terceiro, você sempre tem uma maneira bonita de falar de outras coisas, bonitas ou não.
Beijão diva.

Helena disse...

Em alguns momentos o filme é de uma tristeza absoluta, em outras, de uma beleza tamanha, e muito dele é poesia.
Kate Winslet teve seu melhor ano (e acho que não é pouca coisa) com esse e Foi apenas um Sonho.
Beijo Mara.

Nina disse...

tanta saudade de tanta coisa. de conhecer e conversar e discutir e divagar sobre tudo e mais um pouco.