segunda-feira, 6 de abril de 2009

Há de se tentar entender também os filhos


No meio do mês de março eu comprei e li o novo livro da autora Alice Sebold, que ficou conhecida pelo vendidíssimo "Uma Vida Interrompida" (que li também e já esqueci o enredo), mas comprei esse exatamente pelo novo enredo escrito por ela. O livro é "Quase Noite" e trata de uma filha que mata a mãe senil. Associei rapidamente ao "Tudo que você não Soube", último livro de Fernanda Young. Esse pra quem não sabe, fala quase do mesmo assunto, a filha pega um martelo e acerta a cabeça da mãe e escreve para o pai os motivos do seu ato muitos anos depois.

Enredos freudianos, histórias cotidianas, histórias que passam pela cabeça de muitos filhos, diariamente diga-se de passagem.
Quando Freud descreve sua teoria do complexo de Édipo, ele diz que INCONSCIENTEMENTE as crianças do sexo feminino querem eliminar as mães para poderem ficar com os pais só pra elas. Essa teoria chocou o século XIX, e colocada dessa maneira superficial ainda choca pessoas relativamente inteligentes do nosso século. Só que o velhinho com o famoso charuto acertou (ele era um gênio, e não um engodo, disso hoje tenho plena consciência).

Não realizei nenhuma pesquisa literária para catalogar quantos personagens matam seus pais, mas acredito serem muitos porque literatura é sonho e sonho não é mais que o desejo daquilo que apenas é pensado se tornar concreto.
A diferença é: Por que alguns apenas pensam ou sonham com isso e por que alguns conseguem concretizar o ato de matar algum dos pais? Ou os dois (vide o caso famoso de Susanne).
Defendo os dois livros, no caso em nenhum deles "as assassinas" eram pessoas ruins, maldosas, sociopatas, elas apenas cometeram o ato extremo de colocar em prática o que muitos não o fazem pelas regras sociais. (E aqui destaco, que bom que existem regras sociais).

Todos os seres humanos são capazes de matar, e quem disse isso não foi apenas Freud, Darwin foi também bem explícito. (Agora são 2 gênios para corroborar). E somos capazes de matar porque primeiramente somos animais e queremos sobreviver na selva. E apesar das regrinhas sociais isso é sim uma selva, basta abrir os jornais ou assistir os telejornais. E muitas vezes quem deveria nos dar carinho, amor e suprir nossas necessidades, não o fazem e pior, fazem o contrário, nos limitam, nos quebram as pernas. Há aí o desespero de não ter o que se precisa e o desespero de ter o que não se quer. E aqui fica ainda mais complicado quando a sociedade, a igreja e todos os outros órgãos importantes dizem que é PRECISO, necessário que se ame e se respeite pai e mãe. Mas e quando pai e mãe não respeita filho?
Todos os dias filhos travam lutas pessoais de amor e ódio, de passado, presente e um futuro ambíguo, de um carinho na memória e de trezentas surras marcadas no corpo, de abusos psicológicos e físicos. Lutas absurdas não de vida, mas de sobrevida, de sobrevivência nas casas que frequentam dia e noite.

Os assassinos (sejam eles sociopatas ou não) são criados pelos pais, e são esses mesmos pais que os transformam em seres sociais, educados, seguidores das condutas sociais, ou, monstros. E não defendo o ato de matar mãe e pai obviamente, mas defendo o ato de se julgar mãe e pai junto com o filho, mesmo que um deles ou ambos estejam mortos. (Julgar licitamente, pelas leis do Direito, pelas leis da igualdade proposta pela justiça e pêlos direitos humanos).
Defendo também o direito de se discutir tal assunto, e não fazer dele um tabu, ou algo abominável que não se deve falar. (Deve-se falar sobre quase tudo).

"Quase Noite" é um livro parado, sem muitas emoções, assim como a vida da filha que comete o ato insano de matar a mãe, "Tudo que você não soube" é um livro ágil, provocativo, que reflete a pessoa que escreve. Assim como cada ato "inapropriado" que seja humano, depende de cada um.
Não vamos colocar tudo no mesmo pacote...

3 comentários:

Valentina disse...

Não acredito que haja julgamentos lícitos ou ilícitos; eles são humanos, mas essa é uma questão mais sociológica do que esceveu.
Mas concordo com você inteiramente.
Beijooo.

Fernando Bassat disse...

Não sei se é uma impressão apenas minha mas acredito que as coisas estejam mudando gradativamente, as pessoas não pensam apenas como antes. Acho que os filhos estão mais na mídia reclamando seus direitos e acusando os maus tratos. Ou não?

Nina disse...

você é humana com todo mundo menos comigo. por que?