quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Big Brother: demagogia?

Eu não ia escrever sobre o BBB porque acho que tanta gente escreveu sobre o programa nestes anos todos em que a Globo coloca esse povo no ar que o assunto é batido, mas eu li o blog "Fundo de Gaveta", do Leandro e não concordei com o texto dele. Deixei meu comentário lá e a aqui escrevo um pouco sobre tal entretenimento.
Como eu defini: entretenimento, no dicionário assim consta: 1 - ato de entreter; 2 - distração, passatempo, divertimento.
Não sou contra entretenimentos, aliás, sou super a favor do que nos faça bem, do que nos distraia e nos divirta. A minha tristeza é a de que o povo brasileiro se divirta e leve tão a sério tão pouco. E o público desse programa não é só aqules que, infelizmente não tiveram condições financeiras e culturais para se divertir com outras coisas, o público do Big Brother Brasil é também o dos alfabetizados, graduados, pós-graduados e etc.
Ocorre o que na Psicologia chama-se de identificação: o público assiste determinadas pessoas e com elas se "identifica", a ponto de acompanhar qual vai ser o destino daquele que ganhou sua simpatia. Outro fenômeno explicado pela Psicologia é a do voyerismo: a atração que temos em acompanhar de perto a vida dos outros sem que os outros saibam quem somos nós. Até aí, nada contra, mas o grande problema é que essa vida dos outros mostrada pela Rede Globo, primeiro, é mascarada, não é real como muitos pensam, as imagens são manipuladas, as falas entrecortadas e a partir disso você vê o que a Globo quer que você veja, você se identifica com quem ela quer que você se identifique. Então, a minha primeira crítica em relação ao programa é a manipulação da realidade e a falta de julgamento próprio de quem assiste, já que em sua maioria o público não sabe que está sendo manipulado. A segunda crítica é que um certo gosto pelo voyerismo faz bem, faz você ver no outro, algo que você possa mudar e melhorar em você, mas com o Big Brother não se aprende nada, ninguém fala nada de útil, raramente se assiste algo que possa te acrescentar qualquer coisa, aliás, acrescentam valores que são realmente indignos, como exemplo, as provas que os concorrentes têm que passar para conseguir alcançar uma imunidade ou sei lá o quê, a maioria são de força e resistência, engaiolam os participantes e apostam quem vai ser o participante que aguenta mais (muitas dessas provas chegam a ser humilhantes), em compensação, nunca vi uma prova do programa que exigisse inteligência e cultura. O que isso passa para os telespectadores? Que não precisamos de inteligência e cultura para ganharmos a vida, para nos darmos bem, precisamos ser sarados, bonitos e resistentes na lei da selva.
Eu não vou ser demagoga em dizer para as pessoas desligarem a tv e irem ler um livro, porque a nação brasileira não lê e se lê, são livros de qualidade pavorosas. Mas vou dizer daqueles que reclamam de quem reclama do Big Brother e de toda a tv aberta: essas pessoas são demagogas, falta inteligência e um certo tipo de questionamento sobre toda a programação que nos é empurrada todos os dias, de uma qualidade inquestionalmente ruim.
Mas é isso, as pessoas se acostumaram com o ruim, e a maioria nem se questiona o porquê. (Elas sabem questionar?)

10 comentários:

Leandro Negreiros disse...

Aceito pensamentos diversos dos meus, mas, sinseramente, esperava outros argumentos...

Roberto Lázaro disse...

Dei um look lá no site que vc comentou e li o que ele escreveu e depois li o que vc escreveu. não posso dizer que não assisto o big brother porque estaria mentindo, assisto, mas sou consciente de que não é o melhor programa ou a melhor opção, sei também que a rede globo manipula assim como ela faz com todos os seus programas e concordo com vc mas mesmo sabendo de tudo isso eu continuo achando divertido.
Mas parabéns pelo texto -outra vez, vc sempre escreve bem e ao contrário do leandro eu achei muito bem fundamentados os seus argumentos.SINCERAMENTE

Helena disse...

Não assisto ao programa, acho a qualidade péssima, acho que o Pedro Bial está ficando cada vez mais chato e machista. Sem nenhuma demagogia eu leio os meus livrinhos que na maioria não estão incluídos na lista dos mais vendidos, uso a minha piscina e faço ginástica na academia que eu pago, não preciso ligar a tv para ver as pessoas fazerem isso e acho inteligência fundamental.
Beijo querida.
Obs:saudades, você poderia ligar né?

Giorgio disse...

A tv aberta deveria ser fechada para manutenção.
Bom texto.

Nina disse...

sinceramente é fato que o que a maioria faz não é a melhor coisa. é bom ser minoria em alguns casos (e demagoga). beijos inteiros mara.

Unknown disse...

Uma vez vendo de relance um BBB( que não lembro o número) vi uma confusão entre um participante chamado Alemão e um outro ...acabei vendo o programa. Foi o único que vi, do meio até o fim. Mas percebi nas questões levantadas no programa uma imensa artificialidade e manipulação , muitas vêzes um ponto crucial(da perspectiva de quem está vendo, claro) é colocado em debate e diluido na fluidez geral do formato do programa...fora esta parte que mantive um certo interesse, acho os demais repetitivos e entediantes!
O Leandro argumenta que a rede globo está ai pra ganhar dinheiro mesmo, que este é seu negocio! Discordo! Um canal de televisão é uma concessão pública, teoricamente ele deve atender ás necessidades do público!Agora se existe um consenso de que a necessidade do público se resume ao que é apresentado lá é outro assunto! Uma voz dissonante contra este consenso tbm deve ser ouvida!

Em nossa cultura não temos muita consideração pelo que é público.. isso tbm é consensual! rs

Leandro Negreiros disse...

Roberto, valeu pela correção. Grave deslize. Não critiquei a funtamentação, mas a argumentação. Embora próximas, distintas.

Anônimo disse...

SINCERAMENTE;
FUNDAMENTAÇÃO.

ISSO QUE DÁ FICAR ASSISTINDO BIG BROTHER. KKKKKKK

Gean disse...

Esqueci de dizer que o Pedro Bial é um chatolino!!!





Anônimo:Kkkkk

Bernardo E. Lopes disse...

Oi, Mara!

Olha, hoje na minha aula de Teatro de Nelson Rodrigues a questão do BBB foi levantada. Estávamos dando uma breve passada pelo romance brasileiro "Macunaíma - O Herói Sem Nenhuma Caráter/O Herói de Nossa Gente" e dissecamos a acepção de "herói": seria não a pessoa que veio para salvar nada, mas, acho que até atmologicamente, significa uma pessoa que faz escolhas; da mesma forma, é alguém em destaque - num livro, num filme, ou em qualquer situação, real, irreal ou manipulada entre o real e o irreal - com quem as pessoas se identificam. O Bial frequentemente - e, depois de acusações e difamações, passou a fazê-lo admitidamente para alfinetar seus críticos - chama os participantes de "heróis", e meu professor levantou que talvez a imagem de "herói" esteja distocida no dia de hoje. Achei uma contradição ao que ele acabara de explicar: queira ou não, os telespectadores, tenha o programa conteúdo cultural ou de integridade ou não, se identificam com as pessoas ali, seguem-na até o fim, ou por sua vez vêem as pessoas com quem não se identificam e decidem acompanhar para conferir os desdobramentos desse comportamento e que fim levaria um sujeito em meio a trama de personalidades e atitudes que se cria ali. Então, acho que chamá-los de heróis, como aquelas pessoas em destaque - critiquem ou não, elas estão destacadas - passíveis de identificação e empatia e até simpatia por parte dos telespectadores, faz sentido. Quanto ao Bial, numa entrevista à Rolling Stones, falou que aprendeu a não se levar tão a sério; acho que, se ele consegue ver que pode continuar a ser inteligente apresentando um programa sem necessidades culturais, isso é ótimo pra ele, e as pessoas que o acusam devem estar mais preocupadas do que ele próprio, o que não faz muito sentido. Não sei qual outra mágica pode haver ali dentro, mas o BBB conquista mesmo muita gente: ainda que as imagens sejam manipuladas, elas de alguma forma interessam a algumas pessoas. E isso já seria de um caráter idiossincrático demais para que esses julgamentos extensos de personalidades e desvios dos telespectadores sejam feitos. Até porque, repise-se, não se exige de uma coisa algo que essa coisa nunca se propôs a fazer.

Adoro suas palavras, é claro.
Bjos