quarta-feira, 24 de março de 2010

Um segundo olhar




No prédio que eu moro agora, no quarto andar, uma das minhas vistas dá para duas casas vizinhas. A primeira, com piscina, churrasqueira, geladeira da Bohemia e muita gente bronzeada em dias de sol. Na outra, uma casa imensamente simples com um terreno grande e uma Belina enferrujada estacionada sem nunca sair de lá (acho eu que é Belina).
Quando mudei pra cá, achava a casa com a piscina incrível, as pessoas se reuniam para um churrasquinho e brindavam ao som de um gol na tv. Mas com o passar do tempo eu vi que era exatamente e só isso o que acontecia nessa casa: não havia uma aproximação maior entre seus visitantes e moradores, era (e é) algo como um clube onde as pessoas se encontram para bater-papo de vez enquando. A casa vive vazia quando chove e não tem circulação de gente quando não há sol, apenas um cara limpando a piscina de vez em nunca. Em compensação na outra casa, a mulher, que eu julgava solitária, recebe visitas todo o tempo. Ela está sempre com roupas simples, tipo camiseta maltrapilha e short de 10 anos, com seu cigarrinho na mão e aguando as muitas plantas do terreno. Uns dois ou três meses atrás, ela colocou pra tocar bem alto um disco da Janis Joplin com algumas das minhas canções preferidas, como : "Piece of My Heart", "Summertime" e "Maybe", outro dia, o que tocava era Rolling Stones, daqueles discos antigos, cheio de energia. A casa do lado só deve ter um disco do Zeca Pagodinho.

E uma semana atrás, mais ou menos, era noite e a anfitriã de roupas decadentes recebia algumas pessoas com uma fogueira acesa, uma mesa de comida no terreno, e várias pessoas juntas, abraçadas conversavam verdadeiramente animadas. Começou a chover, ela levou as cadeiras para o lugar coberto e esperou sem ansiedade a chuva parar para colocar de volta os convidados no terreno que só tem as plantas, a belina e um cachorro saltitante que nos dias de sol, pula em cima do carro para se esquentar. Nesse dia da fogueira, a música que rolava era "Todo amor que houver nessa vida", de Cazuza e Frejat, e foi exatamente nessa hora que eu percebi que eu queria ser amiga dessas pessoas e não daquelas que se cumprimentam e se "esquecem" na cadeira de sol enquanto se embriagam de cerveja e falta de assunto.

5 comentários:

Karin a disse...

Que lindo ! Acho que deveriamos nos apresentar , o que acha?...rs
Beijo.

Nina disse...

você é uma ótima contadora de estórias e é emocionante lê-las e um privilégio. beijos inteiríssimos.

Lisa disse...

As vezes ou muitas vezes a aparência engana bastante...
Abraço
Lisa.

Gean disse...

Super interessante sua narrativa...

Que olhos famintos por descobrir hein amiga! rs

Beijos..

Mara Toledo disse...

Ah Gean, minha querida,

se a fome por descobertas salvasse todas as coisas, hum? Estava feita...

Beijos pra todos.