quinta-feira, 22 de abril de 2010

Nova sensação: Paula Parisot


A Editora Leya está cada vez me surpreendendo mais! Dessa vez foi o livro da queridinha e protegida de Rubem Fonseca: Paula Parisot, "Gonzos e Parafusos". O texto não chega a 200 páginas mas é denso, mordaz e utiliza de muito humor negro. Não é um livro difícil nem tampouco fácil: é dolorido.

A psicanalista Isabela, assim como muitas analistas, é um ser machucado. Através de uma narrativa em primeira pessoa, Isabela fala de sua infância, seus pais, seus avós e seus poucos amigos e quase nenhum romance da vida adulta. A psicanalista do livro tenta se matar por duas vezes sem êxito. Não tem alegria de viver, nem muita vontade de morrer. Sobrevive aos dias, ao tédio, à vida burocrática, ao trabalho que nem sempre é grandioso e vive a loucura "normal" dos dias atuais: A falta de perspectiva, o receio da idade, o tempo que passa sem nenhum conquista valiosa, o peso da culpa, de remorsos, de tristeza, de perdas...

Paula Parisot chegou a publicar um livro de contos pela Companhia das Letras, chamado: "A Dama da Solidão", mas foi com esse trabalho atual que chamou atenção dos leitores e de grandes figurões. Não é pra menos. A autora escreve com traços clássicos uma história atualíssima e que dificilmente o leitor não se identifica.

Mas sejamos honestos: Parisot não é pra qualquer um. Ela cita determinadas coisas que só uma pessoa com uma certa bagagem cultural consegue absorver, por exemplo, as obras do pintor Gustav Klimt e de Egon Schiele e algumas pinceladas da teoria freudiana. Mas mesmo assim, ela consegue ser popular ao descrever sentimentos universais que tocam todos sem necessariamente nenhuma bagagem intelectual. O problema é que essas pessoas não perdem e não vão perder seu tempo comprando uma obra de uma escritora pouco conhecida. As pessoas já não têm o hábito de ler, e quando isso acontece, procuram logo a lista dos mais vendidos.

Um lado meu fica feliz. Não é todo mundo que merece uma escrita primorosa, bem cuidada e com segurança, são poucos os destinados a lerem algo do tipo de "Gonzos e Parafusos", pois Paula permanece com uma linguagem popular, mas de jeito nenhum é uma escritora pop. E que seja assim!

"Como disse Freud: A vida se empobrece e perde interesse quando a maior ficha do jogo da vida, a própria vida, não pode ser posta em risco.Por favor, não me critiquem dizendo que uso e abuso de citações freudianas. O que posso fazer? A verdade é: Freud nunca é demais." Pag 108.

Melhor ainda, se o livro for lido ao som de um jazz, a dica fica por conta de Charlie Rouse e seu cd, "epistrophy".

Obs: a imagem anexada nesse post é de Paula em uma de suas performances (ela também é performática) para divulgação do livro ao lado de Rubem Fonseca.

6 comentários:

Nina disse...

ela é linda e uma simpatia além de ser uma talento raro hoje em dia na literatura brasileira. amo o livro de contos dela e esse é fantástico. super recomendado pra quem gosta de coisa boa.

Leandro Negreiros disse...

Nossa, achei a entrevista dela no Jô meio sem graça, mas vou ler o livro. Achei interessante a performance que ela fez para o lançamento do livro. O bacana, que me pareceu pela entrevista, foi a construção da personagem principal através das duas pinturas. Leio e depois comento aqui o que achei. Boa sinopse, de qualquer forma.

Anônimo disse...

Na boa esse blog é feito pra gente que tem dinheiro a vontade pra gastar com filmes, livros, cds, dvds e afins.
E ainda tenho que ler que é bom que o livro não seja feito pra todo mundo. Além de elitista o blog é presunçoso. Eu não tenho dinheiro mas tenho vontade de ler, mas infelizmente esse livro e outros que vc posta aqui não tem na biblioteca municipal.
Vc deveria ter mais cuidado com as pessoas que lêem.

Karina Santos disse...

Oi?
Cuidado com as pessoas que lêem?
Gente,anônimo, essa voce forçou...rs

Anônimo disse...

Não sou o anônimo aí de cima. Também li o livro da Paula, achei sensacional e adorei a performance que ela fez (estive lá na livraria da vila mais de um dia). O que está acontecendo é uma espécie de bullying midiático com ela. Acho que tem muita inveja, dor de cotovelo e ignorância por aí. Várias das matérias que pipocaram nos jornais atacando-a parecem mais fofocas de tablóide e não devem ser levadas a sério. Recomendo o livro. Praqueles que não teem dinheiro, porque não leem o livro em uma livraria (ou pelo menos alguns trechos)?

Lisa disse...

Ueba, tá sendo bem comentado um post sobre literatura - que bom!!!
Não li o livro da Paula mas já dei uma folheada pelas livrarias. (Então anônimo primeiro, porque você não entra em uma e lê?).
Acho que eu tive um pouco de preconceito sobre o rebuliço em torno dela mas depois de tantos elogios vou reconsiderar.
Não acho presunçoso uma pessoa que lê, assiste filmes e etc diga o que achou deles, tendo ou não dinheiro, esse é um espaço da autora e visita e lê quem quer.
É isso.