segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O Demônio do Meio-Dia


Só mês passado me dei conta da existência de "O Demônio do Meio-Dia - Uma Anatomia da Depressão", livro do jornalista Andrew Solomon, publicado em 2001 nos Estados Unidos. E levei um bom tempo lendo suas quase 700 páginas, não pela dificuldade da escrita, mas pela dificuldade do tema. Quem teve depressão - e 25% da população, tem ou teve - sabe da enorme desmotivação de se falar sobre os sintomas da maior doença contemporânea, embora ela exista há muito tempo. Sabe também do estigma, dos problemas familares que ela desencadeia e de tantas outras infelicidades que ela propicia. Mas devo advertir que embora tenha lido vários livros, artigos e estudos científicos sobre depressão, nenhum me comoveu tanto quanto o livro de Solomon. Seu trabalho é consequência de uma pesquisa meticulosa, de sua história de vida e de histórias de vida de tantas outras pessoas entrevistadas por ele. Não há a neutralidade científica, e sim, emoções humanas. Há estatísiticas, apenas para corroborar o que o autor escreve, e assim sendo, ele nos aproxima de maneira bastante intensa do universo da depressão e dos deprimidos.

Minha sugestão para aqueles que se interessam pelo assunto ou são conscientes de seu estado depressivo é a leitura do livro, e mais do que isso, rabisque o livro, tome notas, leia novamente. Como escreveu Virginia Woolf: "Tome nota e a dor vai embora". Pelo menos por um tempo.

A depressão é uma doença biológica, genética, psicológica, uma mistura de tudo? Nada e nenhuma ciência ainda conseguiu responder a essa questão de maneira esclarecedora, mas elas têm se unido para combater um mal que ainda hoje é visto de maneira deturpada e indiferente. Para muitos, depressão é preguiça, é enrolação, é trivial, justamente porque nunca passaram por isso, pelo dilema de querer realizar uma simples tarefa, como tomar banho e não ter forças para se levantar da cama. Logo, "O demônio do meio-dia" é uma explicação das condições existenciais de pessoas com depressão, mais do que isso, é um relato comovente de sobreviventes de colapsos nervosos, de pessoas abusadas fisicamente e mentalmente, de sujeitos cansados de viver, do abismo que a pessoa é jogada, dos medicamentos que são necessários e vitais para continuar lutando, pela terapia da fala, seja ela qual for, pela significância de um assunto que com o passar dos anos foi sendo extrememante banalizado.

Andrew Solomon não teve medo de nada ao escrever o seu livro: suicídio, homossexualidade, instituições psiquiátricas, médicos moralistas, descaso das autoridades e governo. O que ele quis foi exatamente provocar discussões sobre o tema ao procurar e pesquisar uma gama interminável de opiniões, tratamentos e além, dar esperanças a quem precisa. Seu livro é um grito de ajuda e uma mão estendida para aqueles que necessitam. Uma obra prática, mas nem por isso, apenas objetiva, ela também é poética. Porque todos aqueles que são depressivos (eu sou uma - me livrei da depressão, mas não do ânimo depressivo) sabe assim como Solomon que só a beleza, a arte, o amor e a preocupação com o que de fato importa, vale a pena.

6 comentários:

Anônimo disse...

Belo livro

Gean disse...

Um bom livro!

Preciso reler e rabiscar..rs
Li porque uma amiga , com uma depressão cronica,leu epassou o livro..
Eu,basicamente sou muito admirada e animadinha com a vida.. Até hoje! rs

Beijo Maríssima.

Helena disse...

É interessante notar que uma doença que envolve tanta gente ainda é vista como algo que não é patológico. Talvez na época romântica podia ser um charme morrer por coisas sem importânica, hoje é uma dor sem tamanho. Vou ler o livro. Beijo, diva.

Lisa disse...

Tive depressão por 2 anos, melhorando e piorando, o que parou a minha vida quase por completo, é uma das doenças mais tristes e constrangedoras.
Valeu pela dica, procurari o livro!
Abraço!

Gean disse...

A Depressão é incompreendida mesmo....Muitas pessoas dizem sobreaminha amiga; Ela tem tudo e não dá valor!

Daniel Saes disse...

Se os medicamentos são imprescindíveis, se ocorre uma deficiência nos receptores de alguns neurotransmissores, como é que não se responde se a doença é biológica!

Mas que não se leva a sério isso é verdade, uma lástima!