quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O amor é tão longe e a dor é tão perto


Só descobri recentemente quem foi Gilberto Salce Júnior, ou melhor, a transsexual Gilberta. Brasileira, foi assassinada na cidade do Porto em 2006. Antes de morrer permaneceu em cárcere por dois dias sofrendo abusos verbais e físicos e foi lançada num poço para morrer afogada. Detalhe: seus carrascos eram crianças/adolescentes de 12 à 16 anos.

Os defensores dos menores entre tantos argumentos, citaram pérolas de que Gilberta era soropositiva e toxicodependente (por isso merecia morrer tão arbitrariamente?), e que não foram os meninos que a mataram, foi a água. Independente de quão patéticos podem ser defesas baseadas no que é indefensável, o principal é questionar as nossas atitudes diariamente. Vamos nas passeatas gays, mas não militamos por porcaria nenhuma. A maioria quer se divertir e, por que não, zombar dos travestis "engraçados".

Caetano já escreveu: "Há alguma coisa fora da ordem". Muito fora da ordem. Quando crianças entendem por divertimento a devastação completa de um ser-humano, e isso acontece diariamente: índios queimados, empregadas surradas, transsexuais violentados e assassinados, a gente pode começar a perder a esperança.

E só descobri quem foi Gilberta através da canção gravada por Maria Bethânia, "Balada de Gisberta" em seu disco, "Amor Festa Devoção". Bethânia assume o papel de Gilberta e canta por todos os discriminados, pelas minorias, pelos marginalizados. Essas pessoas que um dia dançaram em palácios e se deitaram em mil camas e logo depois foram descartados.

Sim, o amor é tão longe e a dor é tão perto.

"Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.

Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar,
Quando se volta pro nada.

Eu não sei se um anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.

Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço meu grito na treva.
E o fim vem me buscar.

Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.

Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei,
Com ferros morri.

Trouxe pouco,
Levo menos,
E a distância até o fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe.
O amor é tão longe.
E a dor é tão perto". (Pedro Abrunhosa)

3 comentários:

Lisa disse...

Foda essas coisas, nos deixam indignados e sem saber o que fazer.
Não confio em mais ninguém, tá difícil de confiar em gente do bem.
Abraço Mara

Grito de Alerta disse...

O bom é que existem pessoas para denunciar; para expressar indignação como você; e de belas vozes para cantar a hipocrisia do ser humano.

Fã-Clube Grito de Alerta

Nina disse...

bela você é. a sua maneira simples de mostrar indignação é sempre surpreendente. beijo.