sábado, 27 de outubro de 2007

Divagações nada filosóficas

A mente nunca está satisfeita com o próprio funcionamento. Esse é o problema de uma máquina que pensa, ela pensa sobre si mesma e quer funcionar de outro jeito. Aí você bebe, toma café, ou usa nicotina, ou toma frontal ou heroína. Merda é que a mente precisa de corpo e ele não aguenta a batida. Corpo é um problema.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Poesia

Caetano é um chato, mas sabe como poucos escrever poesia em forma de música.
E essa é pura dor e delícia.

"Ó doce irmã, o que você quer mais?

Eu já arranhei minha garganta toda

Atrás de alguma paz.
Agora, nada de machado e sândalo.
Você que traz o escândalo,
Irmã-luz.

Eu marquei demais, tô sabendo
Aprontei demais, só vendo
Mas agora faz um frio aqui.

Me responda, tô sofrendo:
Rompe a manhã da luz em fúria a arder
Dou gargalhada, dou dentada na maça da luxúria
Pra quê?
Se ninguém tem dó, ninguém entende nada
O grande escândalo sou eu aqui, só.

Eu marquei demais, só vendo
Aprontei demais, tô sabendo
Mas agora faz um frio aqui.

Me responda, tô sofrendo:
Rompe a manhã da luz em fúria a arder.
Dou gargalhada, dou dentada na maça da luxúria
Pra quê?
Se ninguém tem dó, ninguém entende nada
O grande escândalo sou eu aqui, só".

(Escândalo)


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A Banalidade do Mal

Em 1954, o inglês William Golding publica sua obra intitulada: "O Senhor das Moscas".
Um avião cheio de crianças e adolescentes cai numa ilha deserta, e os mesmos têm que lidar com a liberdade das regras socias que até então, determinavam seu dia-a-dia. Criam a princípio uma nova democracia ao escolher um novo chefe para se organizarem enquanto esperam resgate. Com o passar do tempo, se tornam caça e caçadores, gerando assassinatos e perversões.

O livro pode ser interpretado de inúmeras maneiras, uma delas é a abordagem da inocência perdida. Outra e bem interessante, é uma fábula com ecos bíblicos. "O Senhos das Moscas" é Belzebu, o príncipe dos demônios citado por Mateus. Podemos concluir que o selvagem atual era também uma criança cruel. A Psicanálise há tempos já tenta comunicar que a criança é um dos seres mais egoístas e desumanos, com perguntas boas demais, venenosas demais, ferinamente intimidantes.

Mas a questão que ficou pra mim foi básica: O instinto de sobrevivência gera pessoas selvagens? Ou, por intinto e pulsões internas, somos por essência, pessoas selvagens?
As rédeas sociais tentam disfarçar, dissimular o que é intrínseco humanamente: o mesquinho, a sordidez, a loucura. E vejamos que estamos precisando de outro tipo de leis e normas, porque estas em vigor, já não nos impele a cometer atos bárbaros e até mesmo genocídeos.
A brincadeira infantil, e por consequência a nossa, é machucar, não arcando com as consequências das pessoas maltrapilhas que deixamos pelo caminho. Em uma passagem do livro, uma das crianças imagina voltar à civilização, aquela que ele bem lembrava, onde não existia selvageria. E, hoje em dia, quem acredita nisso, nessa utopia que muitos fingem existir para continuarem sobrevivendo?

O "bicho" do livro, não é o bicho-papão, não é algo que se possa caçar e matar com uma lança, um revólver, uma faca. Nós somos o bicho , ele faz parte da nossa constituição. É a razão por qual ninguém se deixa ir embora tão facilmente, é a razão porque as coisas são o que são. Banais, simplesmente e humanamente banais.

Será que seremos sempre animais? Nunca seremos salvos?

"No meio deles, com o corpo sujo, cabelo emaranhado e nariz escorrendo, Ralph chorou pelo fim da inocência, pela escuridão do coração humano...". Golding.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Por Uma Psicologia Ética

Os psicólogos devem procurar, por uma obrigação interna e intensa militância aplicar o saber psicológico, psicanálitico ou psiquiátrico à melhora da sociedade em que vivemos. Isso, que deveria ser o empenho consciente e convicto de quem lida com as ciências humanas ou sociais é, infelizmente raro entre nós.
O que há de positivo na Psicologia nasce, não da omissão quanto à violência, mas do questionamento de toda pureza, de toda inocência, inclusive da nossa (alguém ainda duvida disso?).

Pergunta: Cadê a tomada pública de posição dos profissionais de saúde que dificilmente convertem sua teoria em ação?

Agir, para o pensador é divulgar seu conhecimento, é pô-lo a prova na sociedade, é checá-lo em seus efeitos, até, para quem sabe, modificar sua teoria.
Nosso dever é nomear a dor, essa dor que é a demanda de qualquer ciência humana, o enorme mal-estar no mundo. Ou não é certo que quase tudo o que se estuda sobre o homem tem a ver com algum nível de dor, chamem-se elas ciências humanas ou sociais? É reduzir com o ambicioso propósito de pôr-lhe fim, sem aceitar soluções que sejam placebos porcamente construídos.

Ao meu ver, uma psicologia ética exige que o analista saia do consultório, onde ele se instalou de maneira tão preguiçosa e procure ver nas formas de organização social, como as idéias e os afetos se embaralham de modo a saber como se preserva e mesmo amplia-se a injustiça.
Todos nós temos experiência disso, e presenciamos esses momentos de dor no confronto social, desde cenas de explícita crueldade e arrogância até instâncias de sofrimento compartilhado, em que sofre o opressor e sofre o oprimido, até porque são as relações, e não uma eventual maldade pessoal, que se mostram iníquas e geradoras de sofrimento.

Vamos realmente trabalhar e não apenas, fingir que trabalhamos.