quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A Banalidade do Mal

Em 1954, o inglês William Golding publica sua obra intitulada: "O Senhor das Moscas".
Um avião cheio de crianças e adolescentes cai numa ilha deserta, e os mesmos têm que lidar com a liberdade das regras socias que até então, determinavam seu dia-a-dia. Criam a princípio uma nova democracia ao escolher um novo chefe para se organizarem enquanto esperam resgate. Com o passar do tempo, se tornam caça e caçadores, gerando assassinatos e perversões.

O livro pode ser interpretado de inúmeras maneiras, uma delas é a abordagem da inocência perdida. Outra e bem interessante, é uma fábula com ecos bíblicos. "O Senhos das Moscas" é Belzebu, o príncipe dos demônios citado por Mateus. Podemos concluir que o selvagem atual era também uma criança cruel. A Psicanálise há tempos já tenta comunicar que a criança é um dos seres mais egoístas e desumanos, com perguntas boas demais, venenosas demais, ferinamente intimidantes.

Mas a questão que ficou pra mim foi básica: O instinto de sobrevivência gera pessoas selvagens? Ou, por intinto e pulsões internas, somos por essência, pessoas selvagens?
As rédeas sociais tentam disfarçar, dissimular o que é intrínseco humanamente: o mesquinho, a sordidez, a loucura. E vejamos que estamos precisando de outro tipo de leis e normas, porque estas em vigor, já não nos impele a cometer atos bárbaros e até mesmo genocídeos.
A brincadeira infantil, e por consequência a nossa, é machucar, não arcando com as consequências das pessoas maltrapilhas que deixamos pelo caminho. Em uma passagem do livro, uma das crianças imagina voltar à civilização, aquela que ele bem lembrava, onde não existia selvageria. E, hoje em dia, quem acredita nisso, nessa utopia que muitos fingem existir para continuarem sobrevivendo?

O "bicho" do livro, não é o bicho-papão, não é algo que se possa caçar e matar com uma lança, um revólver, uma faca. Nós somos o bicho , ele faz parte da nossa constituição. É a razão por qual ninguém se deixa ir embora tão facilmente, é a razão porque as coisas são o que são. Banais, simplesmente e humanamente banais.

Será que seremos sempre animais? Nunca seremos salvos?

"No meio deles, com o corpo sujo, cabelo emaranhado e nariz escorrendo, Ralph chorou pelo fim da inocência, pela escuridão do coração humano...". Golding.

6 comentários:

Anônimo disse...

Mara , este seu texo fez-me lembrar A Ilha do Doutor Moreau que foi escrita em 1896 por H.G. Wells e filmado por John Franknheimer em 1996.Não pelo tema do filme em si, mas devido a uma cena em que um grupo de homens começam uma jornada por barco até a ilha, no percurso, eles vão brigando e eliminando uns aos outros.. acaba que sobram só dois e aínda assim aparece estes dois brigando e se atracando no minúsculo barco e em um vasto oceano!!!Bem ,sobra só um!! E..fazendo um contraponto a está cena,existe uma outra , não no filme ,mas na vida dita real : Um homem deixando duas filhas(uma de 4 e outra de 6 anos) na plataforma e se atirando nos trilhos do mêtro para salvar um desconhecido que acabara de cair -ele segurou firme o desconhecido e o pesado trem passou a milímetros de sua cabeça, os dois sobreviveram- são cenas da mesma magnitude, cada uma sinalizando para conclusões diferentes sobre a incógnita que é a vida....é amiga, C'est La Vie !!

Nina disse...

Concordo plenamente. O homem é patético, covarde e nunca foi inocente.

Anônimo disse...

Que culpa tem o homem , se despois de milhões de anos de evolução a vida deságua no homem? O homem é o homem! é só o que ele pode ser! rs.

Unknown disse...

Acho que o homem poderia evoluir se tudo deságua nele

Anônimo disse...

A evolução não é ato voluntário de uma espécie, é uma lei da natureza ... eu acho!!rs

Daniel Saes disse...

Esse homem é o mesmo descrito por Thomas Hobbes, em seu livro "O Leviatã" de 1651, onde "o homem é o lobo do próprio homem", que servia então naquele momento de base argumentativa para a "justificativa" de um "pacto social" onde o homem abdicaria de parcela de sua liberdade em prol da proteção do Estado. (Monarquia)
Infelizmente depositamos em demasia nossas expectativas em nosso sistema legal positivado, e o culpamos por nossas frustrações, nos esquecemos de uma premissa constantemente constatada e reafirmada na ciência jurídica penal, de que aquele que comete a ilicitude, o faz com a certeza de uma impunidade, de que será possivel se esquivar da justiça, e aumentar ou diminuir penas em nada modificam quadros estatísticos dos ilícitos penais, apenas amaziam um sentimento de vingança do injustiçado e que não é o objetivo "teórico" de um sistema penal.