Acontece assim, rápido, rasteiro, me consumindo, me possuindo e me matando um pouquinho e me fazendo querer viver e viver tudo o que eu já vivi e que não me recordo mais. Memória lenta, memória fraca, memória-lampejo. E um homem vira e me diz de maneira rígida que eu não passo tormento. É porque ele não sabe das marcas no meu corpo, não atentou para as cicatrizes dos amores findados, das pessoas tão vivas em mim, mortas, daquelas outras tantas que me esqueceram. Sim, meu senhor, o que você tá vendo é gente que escorre, que clama sangue. Mas você não vai entender.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Paixão e amor: uma distinção necessária
Pergunto-me, inicialmente, se esta tentativa de tematizar uma distinção entre amor/paixão não seria uma contraposição à idéia da impossibilidade do encontro amoroso; formulado pela teoria psicanalítica como alienação e aprisionamento ao obscuro e impossível dos nossos desejos infantis, o encontro amoroso está, desta forma, fadado ao fracasso.
Com isso, talvez eu queira abrir a possibilidade de pensar um encontro que não seja posto segundo a égide da alienação e do engodo, que não seja comandado pela idealização do outro e apagamento de si.
Então, por mais que a condição humana de dependência ao outro, necessária para existirmos, seja inexorável - pura condição do humano - acredito que a experiência passional é o resultado de uma impossibilidade de confronto com nossa limitação. Desta forma, a apixão visa o preenchimento de um vazio interior de si e preserva, de um lado, as idealizações e, de outro, a servidão.
Portanto, o paradoxo que se coloca para a condição do ser humano é precisar do outro como condição de ser e, ao mesmo tempo, só poder ser na exata medida em que aceitamos a nossa solidão.
Para Freud, existem diversos casos nos quais o estado de apaixonamento é definido como expressão do amor sensual, aquele em que o indivíduo investe libidinalmente um objeto, visando à realização sexual. esta é a definição mais simples para explicar o fato do indivíduo estar amando: o amor sensual. No entanto, como explicar a permanência do investimento no objeto de amor, quando a corrente sexual se desfaz? O que faz com que este investimento se mantenha de forma mais duradoura?
A ternura é a chave que possibilita compreender a manutenção do investimento no objeto, quando o desejo sensual é satisfeito. Este afeto está, em suas raízes, ligado ao desejo sexual e é resultado de uma inibição dos fins da pulsão sexual do amor filial.
A ternura é a corrente mais antiga e surge asociada à pulsão de autopreservação, dirigindo-se àqueles que cuidam do "bebê". Esta corrente afetiva é impregnada de um erotismo que empresta sua força aos investimentos das pulsões do ego. A corrente sexual está desviada dos seus fins sexuais pelas impossibilidades de realizar-se, vindo a desabrochar na adolescência, quando recebe nova carga de libido e não pode mais dela fugir. É a interdição do incesto que força uma procura para além das figuras paternais, para então realizar seu fim. Desta forma, dá-se 'a forma de amor normal', no qual o objeto será tanto investido como objeto de 'paixão sensual' como de ternura, como outrora foram os familiares que cuidaram da criança. É essa junção das duas correntes que fará com que seja possível ao sujeito, viver uma relação na qual o objeto é valorizado e, ao mesmo tempo, desejado como objeto de realização sexual.
Assim, para que possamos falar de amor, não poderíamos conceber a cisão entre a corrente sensual e a corrente terna, afetiva. O amor é, portanto, postulado como um sentimento que se desdobra em relação à um objeto, desde que não haja uma fixação qualquer neurótica (difícil hoje em dia). Essa fixação gera a frustração da realidade.
O objeto de desejo jamais levará à satisfação porque o que se busca não poderá nunca ser encontrado. Talvez aí esteja também uma das chaves para compreendermos a distinção entre paixão e amor; a apixão está na ordem pura da pulsão, ao passo que o amor leva em consideração outras demandas do sujeito que não seja meramente a realização pulsional.
Neste sentido, podemos pensar que a paixão amorosa, por sua dimensão de ligação e submissão ao outro, não permite a expressão da ternura. A ternura é dessa forma, um sentimento que não está na ordem da paixão. Assim, para que haja amor sensual, dirigido ao objeto da escolha amorosa, é necessário que não haja mais fixação aos objetos incestuosos; para que haja ternura é necessário também, que a barreira do incesto tenha se interposto, e que o objeto de desejo não esteja mais intrincado à ambivalente relação com os primeiros objetos do desejo infantil.
Para que a ternura possa emergir é imperativo que a alteridade do outro a quem se dirige este afeto seja reconhecida. Esta é uma das vias de se pensar a distinção entre a paixão e o amor, como também pode ser a chave para a compreensão dos entraves que se manifestam na paixão silenciosa...
Com isso, talvez eu queira abrir a possibilidade de pensar um encontro que não seja posto segundo a égide da alienação e do engodo, que não seja comandado pela idealização do outro e apagamento de si.
Então, por mais que a condição humana de dependência ao outro, necessária para existirmos, seja inexorável - pura condição do humano - acredito que a experiência passional é o resultado de uma impossibilidade de confronto com nossa limitação. Desta forma, a apixão visa o preenchimento de um vazio interior de si e preserva, de um lado, as idealizações e, de outro, a servidão.
Portanto, o paradoxo que se coloca para a condição do ser humano é precisar do outro como condição de ser e, ao mesmo tempo, só poder ser na exata medida em que aceitamos a nossa solidão.
Para Freud, existem diversos casos nos quais o estado de apaixonamento é definido como expressão do amor sensual, aquele em que o indivíduo investe libidinalmente um objeto, visando à realização sexual. esta é a definição mais simples para explicar o fato do indivíduo estar amando: o amor sensual. No entanto, como explicar a permanência do investimento no objeto de amor, quando a corrente sexual se desfaz? O que faz com que este investimento se mantenha de forma mais duradoura?
A ternura é a chave que possibilita compreender a manutenção do investimento no objeto, quando o desejo sensual é satisfeito. Este afeto está, em suas raízes, ligado ao desejo sexual e é resultado de uma inibição dos fins da pulsão sexual do amor filial.
A ternura é a corrente mais antiga e surge asociada à pulsão de autopreservação, dirigindo-se àqueles que cuidam do "bebê". Esta corrente afetiva é impregnada de um erotismo que empresta sua força aos investimentos das pulsões do ego. A corrente sexual está desviada dos seus fins sexuais pelas impossibilidades de realizar-se, vindo a desabrochar na adolescência, quando recebe nova carga de libido e não pode mais dela fugir. É a interdição do incesto que força uma procura para além das figuras paternais, para então realizar seu fim. Desta forma, dá-se 'a forma de amor normal', no qual o objeto será tanto investido como objeto de 'paixão sensual' como de ternura, como outrora foram os familiares que cuidaram da criança. É essa junção das duas correntes que fará com que seja possível ao sujeito, viver uma relação na qual o objeto é valorizado e, ao mesmo tempo, desejado como objeto de realização sexual.
Assim, para que possamos falar de amor, não poderíamos conceber a cisão entre a corrente sensual e a corrente terna, afetiva. O amor é, portanto, postulado como um sentimento que se desdobra em relação à um objeto, desde que não haja uma fixação qualquer neurótica (difícil hoje em dia). Essa fixação gera a frustração da realidade.
O objeto de desejo jamais levará à satisfação porque o que se busca não poderá nunca ser encontrado. Talvez aí esteja também uma das chaves para compreendermos a distinção entre paixão e amor; a apixão está na ordem pura da pulsão, ao passo que o amor leva em consideração outras demandas do sujeito que não seja meramente a realização pulsional.
Neste sentido, podemos pensar que a paixão amorosa, por sua dimensão de ligação e submissão ao outro, não permite a expressão da ternura. A ternura é dessa forma, um sentimento que não está na ordem da paixão. Assim, para que haja amor sensual, dirigido ao objeto da escolha amorosa, é necessário que não haja mais fixação aos objetos incestuosos; para que haja ternura é necessário também, que a barreira do incesto tenha se interposto, e que o objeto de desejo não esteja mais intrincado à ambivalente relação com os primeiros objetos do desejo infantil.
Para que a ternura possa emergir é imperativo que a alteridade do outro a quem se dirige este afeto seja reconhecida. Esta é uma das vias de se pensar a distinção entre a paixão e o amor, como também pode ser a chave para a compreensão dos entraves que se manifestam na paixão silenciosa...
domingo, 11 de novembro de 2007
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Vazio
Doendo, dor quase como numa canção da Bethânia. E eu tenho tanto pra falar e quase nada de coragem para dizer para as pessoas certas as palavras quase certas.
Eu sinto que abraço a solidão, e não tem vista para o mar.
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