O filme de Alejandro González Iñárritu, lançado em 2004 foi revisitado por mim inúmeras vezes, sempre com dor.
Uma amiga certa vez declarou que filme triste não é bonito, é apenas triste.
Depende do filme.
Uma escola da Psicologia defende que a nossa casa concreta é um espelho da interna, da nossa morada subjetiva, se nossa cabeça se transforma ou é transformada num inferno, diretamente reflete-se onde nos abrigamos. Percebe-se claramente tal movimento com o passar das cenas e percebe-se a rapidez com que isso acontece, acompanhando a rapidez dos acontecimentos trágicos na vida de três pessoas. Todas as três, metidos num emaranhado de culpa procuram refúgio ou na religião, na bebida e drogas ou no fato de ter sido salvo por um transplante de coração. Sabido que a culpa é um dos piores sentimentos que podemos sentir, até porque, sentido, precisamos por momentos transformar a culpa em responsabilidade, essa última transferida para qualquer um que não seja nós próprios.
Em uma das cenas, o personagem que se converte num fanático religioso repete o que lhe é ensinado: "Jesus é a nossa luz, Jesus é a nossa esperança, Jesus é a nossa absolvição". Buscando assim a sua salvação no outro - assim como a responsabilidade dos atos cometidos - mas o outro, seja jesus ou seja outra pessoa que escolhemos proximidade também está perdido e não pode ajudar. Pode ser que sejamos "salvos" com a consciência de que não há salvação propriamente dita.
Há outros elementos: A da verdade que fingimos não acreditar. Numa das cenas, a mulher que perde o marido e as duas filhas num acidente subverte e diz o que a maioria não se atreveria quando consolada por seu pai que lhe fala que a vida continuará: " Não, é mentira, a vida não continua simplesmente". Ponto pra ela.
Não, a vida não continua e como diz a música: "amputado do membro que já perdi".
E o que falar sobre o amor substituto? Aquele que os personagens buscam para amenizar a amputação? Talvez não seja amor enfim. Ele se confunde, se atrapalha, se transforma em dó, pena. É como diz outra música: "Não venha com piedade porque piedade não é amor".
'A dor e a delícia de ser o que é' é a conscientização de que podemos pesar meramente 21 gramas e não saber exatamente o quanto de dor e de delícia cabem num peso de um beija-flor.
De bonito? Só a calcinha vermelha da Naomi Watts.
Tristíssimo. Real. Comovente. Indispensável.
5 comentários:
Ma cherie, adoro quando vc se embrenha no assunto cinema!
Inesquecível sua análise sobre a 'Chave mestra'..
Volto depois!
Beijo.
Vinte e um gramas deveria chamar-se 21 quilos, que é quanto pesa o coração das pessoas que perdem seus amores(geralmente por morte), se as pessoas amassem direito(direito signigica muito, muitas pessoas!)quando alguém 'partisse' haveria aínda muitos e muitos motivos para se viver! Um exemplo: Uma mãe de muitos filhos perde um deles, ela continua vivendo pelos outros! Então .. deveríamos amar como se fôssemos uma mãe(desenvolvi ultimamnete um estranho complexo maternal , aínda sem nome.rs) de muitos filhos; amar de forma ampla!É uma colocação simples e boba,mas é assim que entendo esta questão! O filme pareceu triste, pessimista,mas interessante!Sean Penn é muito bom e neste filme esteve perfeito!
Concordo com a calcinha vermelha e com todo resto do texto.
sempre tive medo dos meus sentimentos quando eu topo com esse filme, é de uma barbaridade e tragédia de proporções gregas e concordo que não há beleza nele, apenas o trivial que um dia pode encontrar as nossas vidas. agora discordando um pouco de um dos comentários acima acho que a atuação do Sean Penn é a dos três a menos brilhante, a Naomi Watts fez o melhor papel da carreira dela assim como Benicio del Toro.
EM " 21 gramas" achei Sean Penn sem os trejeitos costumeiros e melhor do que em " Sobre meninos e lobos" ...
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