quarta-feira, 5 de março de 2008

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É possível que lembranças, memórias, cicatrizes, envelhecimento e marcas corpóreas estejam inter-relacionadas?
Já escrevi anteriormente que nós não sabemos lidar com a dor e que para isso procuramos nos afastar dela com paleativos. Se o sujeito tem insônia, ele toma um comprimidinho para dormir, mas não sabe e nem quer se conscientizar das causas do seu problema. Isso leva tempo e não há tempo a perder.
Numa sociedade imediatista não podemos ter o luxo de nos concentrar com as razões, mas gastamos todo o nosso tempo com as consequências delas no nosso corpo e algumas vezes com de nossa cabeça. Com isso perdemos o melhor de nossa existência.
Se estamos envelhecendo, pagamos alto para passarmos por inúmeras cirurgias plásticas que nos modelam como a mulher/homem do filme da semana passada de Hollywood (Na minha modesta opinião, uma das maiores bizarrices da cultura ocidental contemporânea).
E como apagar da mente eventos que não queremos mais acessar? Não possuíndo mais eventos.
Procuramos e nos esquivamos cada vez mais de termos acontecimentos grandiosos, porque sem eles, não teremos traumas grandiosos.
O filme "O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" de Michel Gondry nos revela sobre tais aspectos mais que muitas pesquisas científicas (A arte ainda nos salva da barbárie geral).
Se fosse possível apagar de nossa vida relacionamentos que não foram para frente e nos fizeram sofrer, faríamos? Imagino que nesta sociedade boçal, teríamos filas maiores que a do sistema de saúde brasileiro para tal procedimento.
Apagar-se-ia a nossa dor e nossa tortura, e com ela, todas as nossas lembranças boas, felizes e agradáveis de tal relacionamento.
Apagar-se-ia a nós mesmos.
Sartre já disse que somos a soma de todas as nossas escolhas, consequentemente, de nossas ações.
Mas, como produtos prontos, removemos de nós todos as cicatrizes e marcas de nossas experiências no corpo e não desejamos mais (pelo menos conscientemente) grandes amores ou esperanças, deduzindo que nos trará grandes dores de cabeça.
Estamos apagando das nossas vidas, o essencial, o que dá razão para existirmos e continuarmos existindo.
Se apagamos e não desejamos a nossa própria história, qual o significado de estarmos vivos?

6 comentários:

Valentina disse...

Você diz ser fã das minhas aulas, e eu digo que elas não são absolutamente nada perto das coisas que você pensa, reflete e mais do que isso compartilha.
Beijos.

Nina disse...

por mais que doa uma dor latejante em mim agora eu nunca apagaria todas as coisas boas que eu vivi com você.

Fernando Bassat disse...

Boa. Qual é o significado de tudo isso?

Unknown disse...

Então para a pergunta "Quem somos?"a resposta é.. somos nossas mentes, nossa memória!?Mas.. onde está localizada a mente? Não sabemos, daí voltamos e fazemos novamente a pergunta inicial e assim vai..Ma não fica brava, estou só te sacaneando!! rsrs. Desconfio que nem Freud e Einstein sabem, todo mundo tem palpite..então palpitemos!né não?

Unknown disse...

agora um pouco de besteira (como se o que foi escrito antes não fosse! rs)para compartilhar...
Não sabemos nada, nada , nada mesmo!
Mas não devemos nos preocupar com isso, pois se alguém quisesse que soubéssemos ,diria! Vamos então caminhar com os olhos arregalados de espanto! Só não entendo a depressão, pois como uma pessoa pode achar monótono( um curioso não é depressivo) o que ela desconhece?

Unknown disse...

Ma, bem que vc poderia fazer como outros blogueiros e responder !!!
Beijo miga.