Falar de pessoas é sempre complicado, caminho árduo de seguir; como psicóloga tentei inúmeras vezes, mas a ciência também tem seus defeitos, e dois deles é a frieza e a aparente neutralidade: Não se fala de gente, mas de sujeitos, não de nomes, mas de estatísticas e parece sempre faltar alguma coisa.
Sou da galera, então, que recorre à arte e com ela me emociono e me dilacero e me entristeço e me desconstruo para recomeçar a me construir novamente.
Me reconstruo nas mulheres e nas cores de Almodovar, na mulher atravessada na garganta de Eduardo Galeano, no rapaz que bate bate bate na porta que nunca abre de Caio Fernando Abreu, na pobreza física e emocional dos filmes de Fernando Meirelles, nas estradas perdidas das cidades dos sonhos de David Lynch, na dor e na delícia de Caetano Veloso, na voz profissional, tranquila de um vilarejo cantado por Marisa Monte, no piano e na dança transgressora de Nina Simone, na própria transgressão chamada Madonna, no eterno desassossego de Fernando Pessoa, do não existir-existindo nos mundos de Clarice Lispector, no olhar esquizofrênico e talentoso e belo de Jennifer Connelly, na dor que transborda as esculturas de Camille Claudel e na auto-flagelação e insistência de Frida Kahlo.
Hebert Vianna já disse: A vida não é filme e você não entendeu.
Realmente, não entendi e nem quero.
"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome, cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores...". Adriana Calcanhotto.