terça-feira, 21 de abril de 2009

Rituais

Quando a gente gosta, não tem jeito mesmo - tentamos lembrar de alguns episódios da vida passada e remontar no presente. Quando eu vou ao cinema e assisto algo bonito, eu falo sozinha: Fá, você iria gostar tanto desse filme, tenho certeza. Ou, Fabiana, essa música é a sua cara, se parece com aquela...que você tanto gostava.
Muitas vezes me vejo tomando café e pensando se meu pai gostaria de um copo, como ele sempre pedia. As vezes me sinto quase culpada por tomar e ele não. Em postos de gasolina de meio de estrada, esse pressentimento, sentimento ou sei lá qual o nome disso é sempre mais pulsante. Quando vou atender um paciente e não estou bem certa do procedimento ideal, eu peço à Heleninha que me guie, mesmo não acreditando que ela possa estar em algum lugar para me guiar.
E para os vivos eu faço o mesmo tipo de "oração", como se de alguma maneira enigmática eles pudessem me ouvir, mas eu sei que não ouvem, e são pedidos em vão de mim pra mim, de uma pessoa que desistiu de ficar na cama isolada dos outros por querer viver, e não sobreviver aos dias. Mas viver é tão difícil, sorrir muitas vezes é quase impossível, sonhar parece algumas vezes besteira, e eu ainda em trancos e barrancos não consegui entender como é que se vive, vou do céu metafórico ao inferno simbólico em menos de 5 minutos, e claro, recorro aos mortos para viver melhor com os vivos.
E não, não se aprende muita coisa com o tempo, aprende-se a realizar pequenos rituais para continuar, continuar, continuar...

5 comentários:

Mila disse...

Continue, continue e continue a viver. Seja com pequenos rituais, "orações"... O importante é sempre, sempre e sempre se reconstruir nas coisas belas da vida.

Helena disse...

Me arrasa o coração te ver triste porque você deixa tanta gente feliz, você ilumina a vida de muitas pessoas e é muito amada.
Lembre-se disso aqui entre os 'vivos'.
Beijo Maríssima.

Fernando Bassat disse...

A Lelê tem razão! Você é linda querida e faz muita gente feliz perto de você.
Você nos guia de alguma maneira sabia?

Anônimo disse...

lindo texto. :)

Anônimo disse...

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

J G rosa