Por muita relutância deixei de assistir "O Lutador" nos cinemas. Por alguns motivos: Mickey Rourke sempre me pareceu um canastrão, a história me lembrava outros filmes de luta - principalmente os protagonizados por Sylvester Stallone (que foi chamado para interpretar esse filme, antes de Rourke, mas estava ocupado filmando Rocky Balboa), e as mensagens básicas desse tipo de filme são sempre as mesmas: Um lutador é obrigado a encerrar a carreira durante uma luta. Só que ele recebe uma proposta para enfrentar seu grande ex-rival, que pode permitir que retome a dignidade perdida.
Pois bem, aluguei o filme por outros bons motivos: Ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza, orçamento pequeno e por consequência, Axl Rose (vocalista dos Guns N' Roses) cedeu uma das músicas de seu grupo sem qualquer tipo de pagamento, assim como Mickey Rourke e Bruce Springsteen não receberam cachê, um pela interpretação e o outro pela canção original indicada ao Oscar. E o maior e melhor dos motivos, o filme é dirigido pelo cineasta Darren Aronofsky, o mesmo de "Pi" e "Requiem para um Sonho".
Um de meus receios foi confirmado; a mensagem do filme é tipicamente a que escrevi acima, mas muitas coisas me surpreenderam, talvez porque não esperava muito dele, a interpretação de Mickey Rourke é realmente incrível, mas a minha intuição é a de que ele não interpretou um personagem, mas a si mesmo. Esquecido pelo cinema americano e desfigurado pelas plásticas, drogas e sabe lá mais o quê, ele é perfeito para o papel (e só de imaginar que o ator Nicolas Cage também foi cogitado, dá um certo alívio por não ter sido escolhido). Marisa Tomei, muito injustiçada também pela indústria cinematográfica, faz uma excelente caracterização, merecendo as indicações ao Globo de Ouro e ao Oscar. A canção de Springsteen é linda e vale a pena escutá-la muitas vezes e Darren Aronofsky é um bom contador de histórias e um excelente diretor de cinema, fazendo de algumas cenas simples, obras de arte.
"O Lutador" não é um grande filme, mas é um filme que fala e se comunica com o público sobre algo que todos conhecem: a perda da identidade quando deixamos de realizar o que gostamos, e por isso mexe com os sentimentos, sem ser sentimentalóide. Mas do que isso, é um filme sobre injustiçados, os de pouca sorte, ou os de muito azar. História e atores.
Que venham os próximos filmes de Mickey Rourke e Marisa Tomei.
Será que a sorte mudou de lado?