No ano da França no Brasil, muitos eventos têm ocorrido, e digo com honestidade que não frequentei muitos além de assistir uma banda de jazz e soul no Parque Ibirapuera e ontem no SESC, na mostra de cinema contemporâneo francês.
Com filmes obscuros de diretores desconhecidos - pelo menos do grande público, fui conferir "Assassinas", (Meutrières), de 2005, drama do diretor Patrice Grandperret. Já retirei convites para sexta-feira próxima para o filme "Até Já", (A Tout de Suite) de Benoit Jacquot, do ano de 2004.
Algumas coisas me chamaram atenção. Primeiramente o filme em si: de altíssima qualidade, com roteiro e interpretações grandiosas - levando em conta a pouca grana para a realização do projeto - de um drama com pitadas de humor (que não deixam de ser negro).
Eis a sinopse: Nina e Lizzy, são duas jovens normais e um pouco frágeis que se encontram em um hospital psiquiátrico. Entre elas, uma identificação imediata: juntas elas são fortes, eufóricas. Sem muita sorte, nem muito dinheiro, elas têm apenas seus sonhos, e sua amizade.
Assombroso, sombrio e triste, o filme narra as escolhas feitas por aquelas pessoas, que já citei aqui, que vivem à margem da sociedade. Escolhas não muito acertadas, que em sua maioria, acabam em tragédia, mas as únicas opções num mundo hostil.
Outras coisas que despertaram minha curiosidade: a mostra de cinema é gratuita, o auditório do SESC possui 126 lugares, e se haviam 30 pessoas no lugar era muito. Algumas conclusões são fáceis de chegar: o cinema francês, assim como o europeu em geral, é mais lento, têm roteiros mais pausados, mais focados nas expressões de seus atores e nas locações escolhidas. E muitas vezes os diálogos não são longos. Para as pessoas acostumadas com o frenesi causado pelos filmes norte-americanos de ação, os franceses são quase insuportáveis. Diria que é quase como a vida contemporânea que levamos, uma agitação frenética, uma corrida contra o tempo, pressão sofrida para a obtenção de resultados, diálogos para esconder o silêncio perturbador. Nossa vida não têm pausa, não tem companhia silenciosa.
Me recordo agora de conversar com meu primo sobre animações infanto-juvenis. Ele gostou de quase tudo que assistiu. E eles são quase irresistíveis mesmo: "Vida de Inseto", "Procurando Nemo", "A Era do Gelo", e outros tantos, mas ele se negou à assistir a animação francesa - uma das melhores na minha opinião - "As Bicicletas de Belleville". Por que? Neste caso, diria que basicamente por preconceito.
E a última observação: conheço pessoas que estão sempre reclamando da falta de vida cultural, e concordo que há épocas do ano em que ela é realmente fraca. Mas ontem, hoje e sábado a mostra é gratuita, o SESC é popular, logo não vai quem não quer. Já imagino as filas lotadas do Cinemark, e vi os bares amontoados de gente enquanto ia ao cinema.
Conclusão: Algumas pessoas já me indicaram muitos filmes ditos "clássicos", e eu não gostei. Mas não fiz ressalvas porque eles eram franceses, italianos ou chineses. Dei e sempre dou uma segunda chance e com isso já tive inúmeras surpresas positivas, encantadoras, arrebatadoras...