segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Genialidade e tristeza diante dos nossos olhos


Cenário e acontecimento: Num banheiro de uma escola norte-americana, duas jovens de 15 anos e amigas inseparáveis se deparam com um atirador que já fez dúzias de vítimas atirando em seus colegas e professores. O jovem diz à elas que só vai matar uma das duas e pergunta para uma delas quem deve morrer. Qual seria a resposta certa? Teria alguma? "Me mate, ou mate minha amiga"?.

O novo filme do diretor Vadim Perelman, "Sem medo de Morrer", o mesmo do incrível, "Casa de Areia e Névoa" retrata mais uma vez uma história que vimos no cinema algumas vezes, o massacre de Columbine, mas quem assistiu o primeiro filme do diretor deve imaginar que esse é muito diferente do apelativo "Tiros em Columbine" de Michael Moore e o entediante "Elefante" de Gus Van Sant. Enquanto os dois últimos ficam marcados por rostos sem nome, estatísticas e números, Perelman quer mostrar um outro lado: A pessoa que sobrevive a um desses acontecimentos trágicos e traumáticos que supomos nunca poder acontecer com a gente.
A adolescente é vivida pela atriz Evan Rachel Wood, e Uma Thurman vive a personagem adulta e ambas tem performances dignas de aplausos.

A adolescente Diana é impulsiva, inconsequente, usuária de drogas e vive todos os dias como se fosse o último. Sua amiga é o seu contraponto, é religiosa, espera encontrar um homem com quem se case e tenha filhos, e não se entrega à loucuras adolescentes.
A adulta Diana é uma mulher amarga, infeliz, que não consegue dormir e insatisfeita por continuar a morar na mesma cidade do evento de 15 anos atrás. Diana se transformou em tudo o que ela não queria, porque a eminência da morte muitas vezes pode ser salvadora, mas no seu caso é a perdição pela incapacidade de esquecer o passado.
Em uma das cenas, enquanto o marido dorme, e ela repassa os acontecimentos, ela diz em voz alta: "Eu não mereço isso". Quem assiste se pergunta: Ela não merece o quê? O trauma? O fato de estar viva? Ou o fato de não conseguir viver?

Psicologicamente não há sentimento mais auto-destruidor que a culpa, porque ela não é endereçada a ninguém, a não ser a própria pessoa, e todos os desastres e sofrimentos alheios, de alguma maneira, ela se vê participante, como se fosse onipotente para poder fazer com que as coisas aconteçam. Nao há maneiras suficientemente boas para o tratamento da culpa, porque se a pessoa falha, ela presume que a culpa (mais uma vez) é dela e não volta a se tratar. Há apenas maneiras e técnicas para se amenizar esse sentimento. Mas seria o caso, quando há uma metralhadora apontada pra você e ter que fazer uma escolha dessa proporção?

Uma das cenas mais bonitas, é quando as duas adolescentes naquele banheiro dão a mão e esperam o golpe final.
De uma fotografia maravilhosa, de uma sensibilidade extrema, de uma realidade esmagadora, de uma tristeza arrebatadora, Perelman, mais uma vez mostra que é um gênio quando a história a ser contada é sobre humanidade, compaixão, sofrimento de pessoas e não apenas pedagógicamente história burocrática de pessoas.
Em uma das cenas a frase é essa: "O coração é o músculo mais forte do corpo". Será mesmo?

Obs: Pena o título em português, já que o nome do filme é "The Life Before Her Eyes".

3 comentários:

Fernando Bassat disse...

Que final é esse desse filme Ma? Tive que pensar e repensar tudo de novo. Doideira.
Mas a Uma Thurman tá brilhante, nunca a vi tão bem.
O filme é muito bom mas cá entre nós você não prefere Casa de Areia e Névoa?
E o Perelman tem tudo para se transformar num dos maiores diretores da atualidade!
Beijos diva.

Nina disse...

a questão é: será que precisamos ter uma metralhadora nos encarando para podermos olhar para nossas vidas e se for o caso modificar o rumo das coisas? porque nós não temos (por enqunto uma arma na cara) então podemos viver da maneira que a gente sonhou.
e eu já sonhei com muita coisa e realizei diversas mas falta uma e isso eu não posso fazer sozinha.

E sim o filme é grandioso, extremamente poderoso e sombrio. e não tem a jennifer com em casa de areia e névoa (que deve fazer uma falta extrema pra você) mas a uma thurman está explêndida.
beijos inteiros sempre seus.

Helena disse...

Depois de ler o seu comentário sobre o filme fui ontem na locadora e assisti.
Embora eu não tenha entendido algumas coisas - que provavelmente-são fundamentais, consegui ver a humanidade daquelas pessoas bem diante dos meus olhos.
Mais triste ainda deve ser morrer sem ter a mão dada com alguém que você goste. Isso me assusta um pouco mas ja estou tratando com o meu psicólogo. (rs)
Beijos Mara.