Mais uma vez, como se fosse sina, me deram pra ler mais um livro do psicoterapeuta Irvin D. Yalom, e como toda capa desse autor, vem escrito: do mesmo autor de Quando Nietzsche Chorou.
Ok, sem entrar, mais uma vez, no mérito se tal livro é bom ou não (minha opinião ficou bem clara em outro post), resolvi dar mais uma chance - já dei três - para o Dr. Yalom e ler esse que foi nomeado de: "De frente para o sol - Como superar o terror da morte". E já tenho problemas com o título do livro, primeiramente me soa como livro de auto-ajuda, e depois porque não acredito que o terror da morte se supere.
Mas estava lendo os primeiros capítulos e já me deu vontade de escrever sobre as minhas primeiras impressões: O fato é que todos nós morreremos e que ninguém sabe lidar concretamente com a angústia de não pertencer mais a este mundo, de imaginar o que não pode ser imaginável, porque não há em nós memórias - conscientes ou inconscientes - a respeito de morrer (E Freud já sacou isso), porque ainda estamos vivos. Não há registros, nem impressões. O que existe é medo, é fobia, são síndromes denominadas "angústias de morte".
Yalom cita o conhecidíssimo e reconhecidíssimo filósofo alemão Heidegger e sua contribuição com uma das dialéticas mais conhecidas no mundo da filosofia: Há dois modos de existência; o primeiro é o cotidiano, em que você está interagindo e integrando no ambiente de maneira satisfatória e o segundo: o modo ontológico, que é a concentração da pessoa naquilo que ela é. E existe de fato uma diferença abismal entre como as coisas são e o que são. Nós, seres humanos falhos nos distraimos bastante na obtenção de poder, dinheiro, satisfação sexual, mas isso não é o que somos. A nossa distração é para fugirmos daquilo que nos importa: a consciência da existência, da mortalidade e características imutáveis da vida, "como também fica mais ansioso e inclinado a propiciar mudanças significativas".
E é nessa parte em especial que eu tenho que dar a mão à palmatória e concordar com o Dr. Yalom: Muitas histórias de mudanças dramáticas e duradouras catalisadas pela confrontação da morte pode fazer do sujeito uma pessoa melhor, mais dedicada à fenômenos humanos que realmente interessam e valem a pena. Reorganizam suas vidas e suas prioridades, descartando as banalidades e superficialidades da vida e adquirem o poder de escolher não fazer as coisas que de fato não querem fazer. Comunicam-se mais profundamente com as pessoas que lhes fazem bem e neste momento, o poder, o dinheiro, a carreira já não são tão importantes ou nada importante.
Quando você trabalha com pacientes terminais, como eu trabalhei, você ouve relatos de uma diminuição do medo que tinham de outras pessoas, maior disposição de se arriscar, de amar e menor preocupação em relação à rejeição. Assim como Freud sugeriu que os melancólicos (e que isso era realmente uma pena) entendiam e tinham consciência plena do funcionamento da vida apenas por estarem doentes, os pacientes só conseguem dar valor as coisas fundamentais quando estão morrendo.
A verdade é que não podemos mudar o nosso destino final, mas podemos mudar a vida enquanto temos saúde (não precisamos estar doentes) para termos necessariamente essa percepção.
A angústia da morte existe e é inerente ao ser humano, psicológicamente não há muito o que fazer, há alívios imediatos, mas não duradouros. Então, com poucas discordâncias, Irvin D. Yalom está conseguindo me surpreender nestes primeiros capítulos de seu livro.
E as minhas duas futuras esperanças: que o livro continue seguindo esse rumo e que o psiquiatra, terapeuta e escritor desista de escrever livros ficçionais e foque mais em sua experiência clínica.
E vambora viver decentemente antes que seja tarde demais.
2 comentários:
As pessoas q tem mais medo da morte são aquelas que não vivem como gostariam.
As invasões bárbaras rs
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