Semana passada em frente à TV sem grandes esperanças fiquei animada em saber que a filósofa Marcia Tiburi iria dar uma entrevista ao Jô. Fiquei ligada esperando por ela e não fui decepcionada.
Tiburi não faz pose, não dá uma de intelectualóide de décima categoria - porque é intelectual de primeira - e consegue aproximar a filosofia dos pobres mortais que nunca ouviram falar de Heidegger, Hannah Arendt, Sartre ou qualquer outro.
Estava concedendo a entrevista para divulgar seu novo livro, que ainda não li, e da explicação do livro fez uma constatação interessante: duas ou mais pessoas acham que conversam, mas não o fazem. Não há continuidade ou fluidez no discurso, porque cada um está interessado em dizer sobre ele, assim o questionamento não é e nem precisa ser utilizado.
Exemplo: - Fulano, você assistiu tal filme?
- Sim Cicrano, eu gostei muito, me identifiquei com a personagem principal.
- Eu também gostei. Gosto muito daquela atriz.
E o assunto chega ao fim.
Isso poderia ser determinado, nominado uma conversação?
Curiosamente nesta semana li uma coluna de Luis Fernando Veríssimo que dizia sobre a "desconversa". Anônimos ou conhecidos ao estarem perto - num elevador, esperando o avião para embarcar, passando pela portaria do prédio - se satisfazem em perguntar e falar sobre o tempo:
-Esfriou hoje não?
Há como existir um desacordo conferindo o sentimento de cada um a respeito da temperatura vigente?
Se existir uma sorte maior pode-se até conseguir falar sobre a novela das 8.
Não sei se porque sou psicóloga ou por ser do jeito que sou acabei psicóloga, gosto de estórias, contadas de todas as maneiras: pelas pessoas, pelos filmes, pelos livros, pelas músicas e dialogo com elas. (As vezes um monólogo é mais instrutivo do que uma "conversa" à dois).
Me pergunto: Será que as pessoas cansaram de discutir ou elas nunca provaram o sabor de conversar verdadeiramente com o outro a ponto de no final da conversa estarem deliciosamente cansados?